Coronavírus

Uma tatuagem por cada dia de isolamento - à procura de espaço no corpo

Um par de dados, um escorpião, uma palmeira inclinada, um peixe-espada, um coração, uma boneca de vodoo e umas cerejas. A Lista não fica por aqui. Chris Woodhead tatua no próprio corpo um desenho por cada dia de confinamento. Começa a falta-lhe espaço.

Patrícia Bentes

Chris fez a primeira tatuagem aos 18 anos, e não parou mais. Levado pela cena punk norte-americana, aos poucos foi ficando com o corpo coberto de tatuagens. Um interesse que cresceu quando conheceu o trabalho de Duncan X, um ícone da tatuagem britânica, que popularizou um estilo, usando apenas tinta preta em negrito para desenhar ilustrações contemporâneas.

"Duncan X tatuou-me quando eu tinha uns 19 anos", conta agora à BBC. "E então o meu melhor amigo começou a tatuar e usou-me como uma tela - fez mais de 400 em mim."

Hoje, com 33 anos, o corpo do londrino tem pouca pele por tatuar. Da sola dos pés às pontas dos dedos, quase todos os centímetros estão cobertos por uma vasta confusão de desenhos de estilos diferentes.

Não é, por isso, fácil, a tarefa a que se propôs no início da quarentena, quando já somava 1000 tatuagens.
Na altura, o estúdio de tatuages, no leste de Londres, onde trabalha como artista, fechou, e Chris ficou em casa com a esposa grávida, Ema. Foi então que decidiu adicionar uma nova tatuagem por dia, enquanto durasse o confinamento.

"Vi-me sem saber o que fazer e a comer toda a comida nos armários", diz. "Então a idéia de me tatuar todos os dias era dar-me um pouco de direção. Sem estrutura, as pessoas estão completamente perdidas".

Todas as tardes, entre as 14h00 e as 16h00, Chris senta-se para tatuar desenhos inspirados na situação que está a viver.

"Acho a tatuagem terapéutica de qualquer maneira. Naquele momento, estou a desenhar o que estou a pensar", diz ele. "E não há muito mais na minha cabeça neste momento além desta crise monumental."

Na pele enrugada da planta do pé esquerdo, o artista escreveu as palavras: "QUANDO VAI TERMINAR?" E na parte inferior da perna direita há uma partícula esférica de coronavírus. Já no esterno - um lugar onde "parece que se está a ir direto ao osso" - Chris Woodhead resistiu à dor de tatuar a sua própria homenagem ao Serviço Nacional de Saúde.

"O que eu acho tão triste é que foi precisa esta situação para levar as pessoas a apreciarem verdadeiramente o NHS, e perceberem que os seus empregos são incrivelmente difíceis", diz ele.

Chris usa uma técnica de tatuagem de baixa tecnologia, na qual uma agulha de mão é usada para empurrar a tinta profundamente na pele, sem o uso de eletricidade. O método tem vindo a ganhar popularidade, explica, porque é muito menos invasivo e doloroso do que fazer uma tatuagem com uma pistola.

"É como se você tivesse uma pena que mergulhasse num pote de tinta, mas você só pode pontilhá-la na pele", diz o londrino. "É muito, muito difícil ser preciso - cada ponto importa - e leva muito mais tempo do que trabalhar com uma pistola de tatuagem".

Ao 40º dia de confinamento, o tatuador está ciente de que deve salvaguardar um espaço para tatuar o nome do novo filho, quando nascer. Por isso, vai calculando a quantidade de pele que ainda resta para continuar com o projeto de que estabeleceu para o bloqueio.
E a resposta é: não muito.

"Quero que sejam boas tatuagens. Então, para tentar mante-las emocionantes, sendo realista, provavelmente ainda tenho um mês de espaço de tatuagem".

"Se for verdadeiramente honesto, pareço ridículo - pareço um pedaço de queijo azul. Ainda há muito pouco espaço que eu possa alcançar."

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