Coronavírus

Uma grávida em tempo de pandemia

Como é que uma situação num mercado lá longe em Wuhan na China afeta o que faz um cantor na América ou uma jornalista grávida em Portugal?

Sara Pinto

Deixei a redação da SIC na última 5ª feira 12 de março a dizer um até já aos colegas. Duas semanas e já volto, deixa só isto acalmar durante 15 dias.

A meio de uma gravidez tranquila que me permitiu ir trabalhando da forma habitual, o momento era o de fazer uma pausa para minimizar alguns riscos pelo contato direto que tenho com várias pessoas na redação e em estúdio.

Duas semanas e já volto.

Ainda não passaram essas semanas.

Passaram 6 dias desde que começou o meu isolamento social e já sei que não volto. Não daqui a duas semanas. Nem sei se daqui a 2 meses.

O mundo já era diferente na 5ª feira 12 de março, mas a nossa perceção dessa diferença ainda não era tão real. A minha não era.

A dimensão desta pandemia está agora mais evidente, pelo número de afetados, pelas medidas extremas, pela globalidade do seu efeito.

Ontem, à hora a que num dia normal estaria a preparar a Edição da Noite, ouvi em direto na minha sala de estar o John Legend a cantar a partir da sala de estar dele. Um momento invulgar de entretenimento que me fez questionar o quão ligados estamos todos. Como é que uma situação num mercado lá longe em Wuhan na China afeta o que faz um cantor na América ou uma jornalista grávida em Portugal?

Nos últimos dias já tive momentos de otimismo, em que penso que vai passar rápido, mas tive também momentos de desânimo pela imprevisibilidade de tudo isto.

Sou uma grávida de primeira viagem e a todas as dúvidas habituais junto as dúvidas do momento excecional que vivemos.

Como é que se tem um filho durante uma pandemia? E se eu ficar infetada? E se o meu bebé ficar infetado? Que cenário vou encontrar quando tiver de ir ao hospital? E o meu marido, vai poder acompanhar-me no parto ou estarão em vigor medidas de limitação de acesso de acompanhantes ao hospital? Será que os meus pais vão conhecer o neto apenas pelo ecrã do telemóvel?

São muitas dúvidas e poucas certezas e na sociedade evoluída em que vivemos, com tecnologia que nos ajuda a planear e a controlar o dia desde que acordamos até que nos deitamos, não estamos habituados a lidar com essa perda de controlo.

O Presidente da República dizia no discurso em que declarou estado de emergência em Portugal que este vai ser um “teste nunca vivido”, “é uma guerra”. Eu nunca vivi uma situação de estado de emergência, nunca vivi uma guerra e nunca vivi uma gravidez. Mas a conclusão a que chego é que não vale a pena tentar antecipar cenários e não vale a pena desanimar. O que vale a pena é focarmo-nos naquilo que está ao nosso alcance, naquilo que podemos fazer para ajudar a resolver esta crise e isso passa por ficar em casa e cumprir as regras excecionais decretadas. Se for na companhia dos músicos que mais gostamos de ouvir, tanto melhor.

A humanidade já sobreviveu a muitas crises, muitas igualmente excecionais. No meio de tantas dúvidas tenho a certeza que um dia contarei ao meu filho como é que sobrevivemos a esta e como é que ele nasceu no meio da pandemia de Covid-19.

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