De forma geral um consumo moderado refere-se a até duas bebidas por dia para homens e uma bebida por dia para mulheres. Já o binge drinking, definimos por seis ou mais bebidas numa única sessão para o homem e quatro ou mais bebidas para a mulher. Isto significa que se bebe um copo de vinho ao jantar todos os dias, e ao fim de semana bebe meia sangria ao almoço e uma cerveja ao jantar, já não estamos a falar de um consumo moderado.
Mas mais do que isso, interessa saber que ao contrário do que se pensava, nenhum consumo de álcool é seguro. O álcool é uma substância tóxica que causa dependência, e está na mesma categoria de substâncias que podem causar cancro, mais do que o tabaco ou a radiação, por exemplo.
E é facil achar que isto só é importante para têm um problema de dependência mas, na verdade, aplica-se a qualquer pessoa que consome álcool regularmente.
Portugal entre os países da Europa com maior consumo de álcool
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que dos cancros causados pelo álcool na Europa, perto de metade são provocados por consumos “leves a moderados”, como beber um copo de vinho e uma cerveja por dia. E, eu sei que, é desconfortável mas falar sobre isto é importante porque Portugal está entre os países da Europa com maior consumo de álcool.
Em média, cada português com mais de 15 anos consome o equivalente a quase 500 copos de vinho por pessoa, por ano. Mesmo sem haver uma dependência diagnosticada, sabemos que o álcool aumenta o risco de acidentes de carro, comportamentos violentos, doença mental e física. Por ter impacto em tanta gente, e aumentar o risco de tantas doenças, é um importante problema de saúde pública.
E com isto eu não quero que fique assustado. Quando estou em consulta gosto de dizer que todos vamos escolhendo, ao longo da vida, alguns fatores de risco. Por exemplo, eu sei que ir para a praia ao meio dia têm mais risco, mas há dias em que isso acontece.
Aqui a questão é que estou consciente desse risco, e por isso vou tentar encontrar um equilíbrio. Uso protetor 50+, fico à sombra, e tento evitar que se repita muitas vezes. E falar sobre o consumo de álcool é só sobre isto. Sobre garantir que sabe que o álcool têm riscos. Porque é também esse consumo que vai aumentar ou diminuir o risco de chegar aos 80 anos saudável, com qualidade de vida, sem tomar 7 ou 8 medicamentos, e a conseguir socializar como socializa hoje.
É bastante diferente beber um copo de vinho porque me sabe bem, sabendo que têm risco, do que beber porque acho que não têm mal nenhum e até vi um anúncio lindo recentemente que me deu vontade de ir beber um copo.
O consumo de álcool é multifatorial e eu sei que têm uma componente cultural importante. Mas é possível apreciar e até proteger as vinhas inacreditáveis do Douro ou do Alentejo, enquanto se regula adequadamente o marketing excessivo que existe atualmente.
A dependência do álcool é um problema em Portugal, e o consumo moderado também. Por isso muito mais do que dizer “beba com moderação”, está na altura de garantir que se para de pôr a responsabilidade exclusivamente no consumidor, e que o Ministério da Saúde ajuda a proteger a população, assegurando que que quem consome, o faz consciente dos riscos que implica.