Faz-se uma análise de sangue e, depois, é fornecida uma longa lista com três categorias: alimentos não recomendados, alimentos a evitar, e alimentos não permitidos. E haverá coisa mais científica do que um teste de sangue para diagnosticar intolerâncias? Sim, há. Mas já lá vamos. Primeiro é importante perceber que uma intolerância é diferente de uma alergia.
A alergia é uma reação exagerada do sistema imunitário. Por exemplo, alguém com alergia ao camarão, têm um sistema imunitário que identifica o camarão como uma potencial agressão e ativa todos os mecanismos para sinalizar isso mesmo. Os lábios incham, a pele fica com manchas, e pode até surgir dificuldade respiratória, tornando-se rapidamente uma emergência médica.
As intolerâncias são diferentes, no sentido em que não é uma reação mediada pelo sistema imunitário e, habitualmente, está mais relacionada com o processo de digestão. A intolerância à lactose é um bom exemplo. O leite têm um açúcar chamado lactose, que para ser digerido precisa da enzima lactase. Quando não temos esta enzima em quantidade suficiente, não digerimos bem a lactose, ela acumula-se no intestino e dá o típico inchaço e desconforto abdominal.
Mas enquanto que para a intolerância à lactose até já temos um teste que nos pode ajudar a fazer o diagnóstico, para o resto dos alimentos não é bem assim.
Estes testes de intolerâncias inespecíficos dizem trazer um método inovador que avalia hipersensibilidade através da medição de anticorpos IgG. Estes anticorpos funcionam como uns soldadinhos do nosso sistema imunitário, treinados para identificar potenciais agressores e assim saber geri-los. Mas a sua presença ou ausência no sangue não quer dizer que temos intolerância, quer apenas dizer que fomos expostos a um alimento. Não há uma relação validada entre a quantidade de anticorpo que consta nas análises e o grau de intolerância.
Se temos soldadinhos para o trigo, isto só quer dizer que estivemos expostos quando comemos torradas com manteiga de manhã. E o mesmo se aplica ao leite, as frutas, e a muitos outros alimentos incluídos nestas listas.
A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica diz ainda que a abordagem de suspeitas de intolerâncias ou alergias deve ser feita com base numa boa prática e bons métodos de diagnóstico, o que estes testes não são. Além disso, alertam que podem levar a erros de diagnóstico graves, restrições alimentares desnecessárias, e riscos para a saúde e nutrição.
Se acha que pode ter uma intolerância, comece por procurar ajuda. Pode também fazer aquilo a que chamamos um diário de sintomas, em que durante alguns dias escreve o que comeu e os sintomas associados. Daí tentamos perceber se há de facto razão para suspeitar de uma intolerância.
O papel e caneta que usar, e mesmo a consulta com um médico ou nutricionista, vão sem dúvida ficar bem mais baratos do que estes testes não validados.