O arguido Abdul Bashir, que está acusado e 11 crimes pelo Ministério Público, começou a ser ouvido no Tribunal Central Criminal de Lisboa, esta quinta-feira, depois de ter aceitado prestar declarações, e tem estado a responder a perguntas da presidente do coletivo de juízes.
Abdul Bashir, que segundo o Ministério Público (MP) sofre de doença mental, disse ter esfaqueado as duas mulheres, com quem estava no interior de um gabinete, depois de uma delas o ter esfaqueado primeiro. Nessa altura, contou, agarrou na faca que transportava com intenção de se defender e porque sentiu a sua vida em perigo.
Em tribunal relatou que desde janeiro de 2023 começou a transportar consigo uma faca de cozinha porque sentia que a sua vida e a da família estavam em perigo, acrescentando, no entanto, que já desde 2021 seria alvo de ameaças de morte.
Na explicação do arguido, havia uma conspiração montada pela família Aga Khan para o matar e as duas mulheres faziam parte desse plano, bem como o presidente do conselho do Centro Ismaili e o representante político da família Aga Khan.
No ataque perpetrado no Centro Ismaili, em 28 de março do ano passado, o acusado matou duas mulheres com uma arma branca, tendo sido baleado pela polícia e levado, nesse dia, para o Hospital de São José, em Lisboa.
No julgamento que começou esta quinta-feira, Abdul Bashir, de nacionalidade afegã, está acusado de dois crimes de homicídio agravado, seis crimes de homicídio agravado na forma tentada, dois crimes de resistência e coação sobre funcionário e um crime de posse de arma proibida.
O acusado foi beneficiário do estatuto de proteção internacional enquanto refugiado, e, de acordo com informação do MP, ficou, após os crimes, a cumprir a medida de coação de internamento preventivo no hospital psiquiátrico prisional de Caxias por sofrer de doença mental.
"O arguido padecia, à altura dos factos, e ainda padece de anomalia psíquica, desde logo um quadro psiquiátrico de esquizofrenia e de uma perturbação da personalidade mista, designadamente perturbação de personalidade narcisista e perturbação de personalidade antissocial, pelo que foi requerida a declaração da inimputabilidade", indicou a nota do Departamento Central de Investigação e Ação Penal divulgada em março deste ano.
As vítimas mortais são duas portuguesas, de 24 e 49 anos, que trabalhavam no Centro Ismaili nos serviços de apoio aos refugiados.
No dia seguinte à ocorrência do crime, o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, afirmou, num encontro com jornalistas, não existir "um único indício" de que o sucedido tenha sido um ato terrorista, admitindo que o ataque tenha resultado de "um surto psicótico do agressor".
Tradutor emocionou-se e sessão foi interrompida
Durante o relato do arguido Abdul Bashir sobre o que se passou em março do ano passado, o tradutor, que trabalhava no Centro Ismaili com as vítimas emocionou-se e começou a chorar. A sessão do julgamento acabou por ser interrompida.
"Eram os meus colegas, eram pessoas cinco estrelas, gostava muito deles... . Eu fui nomeado [para estar aqui] porque sou um tradutor independente", explicou aos jornalistas à saída do tribunal.
Com LUSA