A segunda fábrica islandesa de captura de CO2 no ar e armazenamento subterrâneo foi inaugurada a 15 de maio pela start-up suíça Climeworks, Com esta nova unidade, a empresa aumenta dez vezes a capacidade e espera eliminar milhões de toneladas deste gás até 2030.
A nova unidade Mammoth está localizada a poucas centenas de metros da sua irmã mais nova Orca, uma fábrica pioneira em serviço desde setembro de 2021, no meio de um campo de lava solidificada coberta de musgo, a meia hora da capital Reykjavik.
Construídos sobre um vulcão adormecido e a 50 quilómetros de um vulcão em erupção, 12 contentores começaram nos últimos dias a ventilar o ar para extrair CO2 graças a um processo químico, alimentado pelo calor da fábrica geotérmica vizinha ON Power.
Transformar o gás em pedra
Até o final do ano, serão instaladas 72 unidades à volta da fábrica que comprimem o gás e dissolvem-no em água para depois o injetarem no subsolo.
A 700 metros de profundidade, em contacto com o basalto, uma rocha vulcânica porosa rica em cálcio e magnésio, o CO2 demora cerca de dois anos a mineralizar e é assim armazenado de forma sustentável, segundo um processo desenvolvido pela empresa islandesa Carbfix.
Até agora, cerca de 10.000 toneladas de CO2 foram capturadas e depois armazenadas por ano em todo o mundo, incluindo 4.000 de toneladas pela Orca e o restante principalmente por unidades piloto experimentais. Quando estiver totalmente operacional, Mammoth absorverá 36.000 toneladas por ano.
“Passámos de alguns miligramas de CO2 capturados no nosso laboratório há 15 anos para alguns quilos, depois toneladas e milhares de toneladas”, congratula-se Jan Wurzbacher, fundador e codiretor da Climeworks, que tem a meta de mil milhões de toneladas para 2050.
No ano passado, em todo o mundo, foram emitidas 40 mil milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera.
Diferenças entre fábricas e tecnologias
Estas fábricas da Climeworks distinguem-se daquelas que captam o CO2, mais concentrado, à saída de infraestruturas industriais ou energéticas, mas também daquelas que reutilizam este gás em vez de o armazenar.
Estas tecnologias são reconhecidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como uma solução para eliminar o CO2 da atmosfera, mas ainda não estão amplamente integradas nos cenários de redução de emissões, pois o seu desenvolvimento é extremamente caro, ainda está em fase embrionária e com financiamento público limitado.
Duas técnicas de captura de CO2 da atmosfera
As emissões de gases com efeito estufa são responsáveis pelo aquecimento global e a humanidade tem grande responsabilidade nessa matéria, o que tem levado ao desenvolvimento e à expansão de técnicas para reduzir ou eliminar o CO2 da atmosfera.
Há duas abordagens principais: a Captura e Armazenamento de Carbono (CCS, sigla em inglês) e a Captura Direta do Ar (DAC, sigla em inglês).
- Captura e armazenamento de carbono:
A técnicas de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCS)evitam que o CO2 gerado por indústrias e centrais elétricas entre na atmosfera. Este método captura o carbono à saída das fábricas e centrais, transportando-o posteriormente para ser armazenado em reservatórios geológicos, como antigos campos petrolíferos.
- Captura Direta do Ar:
O método decaptura direta do ar (DAC) remove o CO2 já presente na atmosfera através de grandes ventiladores e processos químicos. Apesar de ser mais onerosa e consumir mais energia devido à baixa concentração de CO2 no ar (cerca de 0,04%), essa técnica oferece uma solução para o carbono que já polui o ambiente.
Em ambos os casos, o CO2 capturado é então transportado e injetado em reservatórios geológicos herméticos - por exemplo, antigos campos de petróleo - para aí ser armazenado permanentemente. Também pode ser reutilizado para fabricar produtos como pellets de combustível.
A situação atual e a urgência de acelerar
A indústria de combustíveis fósseis utiliza a técnica CCS desde a década de 1970, mas a motivação inicial era acelerar a extração de petróleo e não mitigar as emissões de carbono.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), no final de 2022, 35 empresas mundiais utilizavam CCS, capturando um total de 45 milhões de toneladas de CO2. Em contraste, a DAC, uma tecnologia mais recente, tem um impacto muito menor, com 18 fábricas removendo apenas 10.000 toneladas de CO2 no último ano - o equivalente a 10 segundos de emissões globais...
A AIE estima que, para atingir emissões líquidas zero até 2050, a CCS precisará de capturar 1,3 mil milhões de toneladas de CO2 por ano até 2030 (30 vezes mais) e a DAC precisará de remover 60 milhões de toneladas por ano.
Custos e a necessidade de grandes investimentos
Os custos atuais para CCS variam de 15 a 120 dólares por tonelada de CO2, dependendo da concentração do fluxo de carbono.
Para a DAC, os custos são significativamente mais altos, variando de 600 a 1.000 dólares por tonelada de CO2 extraído. No entanto, espera-se que esses custos diminuam para entre 100 e 300 dólares por tonelada até 2050.
Recentemente, leis nos Estados Unidos e no Canadá incentivaram investimentos através de créditos fiscais, enquanto a Coreia do Sul e a China estão a investir intensamente. Uma nova fábrica na China visa capturar 500.000 toneladas de carbono por ano.
Na Europa, o desenvolvimento de um "cemitério de CO2" no Mar do Norte está em progresso. Empresas como Alphabet, Shopify, Meta, Stripe, Microsoft e H&M planeiam investir cerca de mil milhões de dólares em tecnologias de captura de carbono até 2030, com o JPMorgan já tendo acordado um investimento de 20 milhões de dólares com a Climeworks.
Reduzir, captar, eliminar: controvérsias sobre a melhor solução para lidar com o CO2
As discussões sobre a melhor forma de reduzir o CO2 incluem a eliminação de combustíveis fósseis, a captação de emissões após a combustão e a remoção do CO2 da atmosfera. Há um consenso sobre a necessidade de todas essas abordagens, mas a redução e eliminação progressiva de combustíveis fósseis é vista como a mais eficiente. As tecnologias de captura, especialmente a DAC, têm atraído investimentos significativos devido à sua capacidade de quantificar de forma precisa a quantidade de CO2 removido, apesar das críticas sobre sua viabilidade e custo.
Em resumo, para alcançar as metas climáticas globais será necessário um esforço conjunto que combine a redução das emissões com o desenvolvimento e implementação de tecnologias inovadoras.