O metano (CH4) é o segundo maior contribuinte para o aquecimento global, a seguir ao CO2. De acordo com a agência da ONU para o ambiente, é responsável por cerca de 30% do aumento das temperaturas desde a revolução industrial.
Após décadas de foco no dióxido de carbono, os decisores políticos começaram a reconhecer a ameaça que o metano representa e, em 2021, mais de 100 nações assinaram o compromisso de reduzir as emissões de metano em 30% dos níveis de 2020 até 2030.
De onde vem o metano?
Cerca de 40% das emissões de metano associadas à atividade humana têm origem na agricultura, principalmente devido à digestão de ruminantes. Outros 35% provêm de combustíveis fósseis, incluindo gás natural que escapa de poços, minas e gasodutos, enquanto 20% resultam da decomposição de resíduos.
O metano, um componente essencial do gás natural, pode ser usado como combustível para fábricas de energia e para fins domésticos. No entanto, é um potente gás com efeito de estufa que, segundo os cientistas, retém o calor de forma 28 vezes mais eficaz do que o dióxido de carbono ao longo de 100 anos.
As concentrações de metano na atmosfera aumentaram mais de 150% desde o início das atividades industriais e da agricultura intensiva.
Qual o impacto do metano no clima?
À escala global, as emissões de metano são responsáveis por cerca de 30% do aquecimento desde a era pré-industrial, conforme indica o relatório de novembro do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).
A investigação mostra cada vez mais que a redução das emissões de metano é crucial para conter o aquecimento do planeta a 2ºC, preferencialmente menos, em relação aos tempos pré-industriais, a fim de evitar os piores impactos das alterações climáticas.
Diferença do impacto do metano e do CO2
O metano retém o calor de forma mais eficaz do que o CO2, sendo aproximadamente 28 vezes mais potente como gás com efeito de estufa ao longo de um período de 100 anos, de acordo com estimativas científicas.
No entanto, o metano tem uma vida atmosférica mais curta em comparação com o CO2. Enquanto o CO2 pode permanecer na atmosfera por séculos, o metano tem uma vida útil mais curta, em torno de uma década.
Assim, embora o metano seja mais potente em termos de aquecimento global de curto prazo, as emissões contínuas de CO2 têm um impacto cumulativo maior ao longo do tempo devido à sua persistência na atmosfera.
O que os grandes poluidores estão a fazer?
A indústria dos combustíveis fósseis não está a conseguir combater as emissões de metano, apesar das suas promessas de descobrir e reparar infraestruturas com fugas, de acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) publicado em fevereiro de 2023.
No setor da energia, o metano é emitido intencionalmente através de ventilação e por acidente em locais como tanques de armazenamento de gás, terminais de gás natural liquefeito (GNL), estações de compressão de oleodutos e locais de processamento de petróleo e gás.
Em 2022, a indústria global de energia libertou aproximadamente 135 milhões de toneladas de metano na atmosfera, ultrapassando os níveis de 2020 e 2021 e ficando apenas ligeiramente abaixo da quantidade recorde libertada em 2019, de acordo com o relatório.
Cerca de 60% das emissões globais de metano são atribuídas a atividades humanas, com a maior parte originada na agricultura, eliminação de resíduos e produção de combustíveis fósseis.
A sua concentração na atmosfera está atualmente a aumentar a uma taxa de cerca de 1% ao ano, segundo a Agência Espacial Europeia.
Os grandes emissores de gases poluentes
Energia, agricultura, construção, transportes, indústria e florestas: segundo a ONU estes são os setores que têm de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa - dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (NO2).
- Energia
A produção de energia é dos maiores responsáveis pelas emissões poluentes, sobretudo a produção de eletricidade.
- Carvão
As centrais a carvão são responsáveis por 40% das emissões poluentes para produção de energia e devem ser abandonadas.
O plano da Agência Internacional de Energia (AIE) prevê a neutralidade carbónica no setor elétrico em 2040, o que significa instalar quatro vezes mais capacidade solar e eólica até 2030 do que em 2020.
- Transportes, agricultura e indústria
O problema é que a eletricidade verde não é suficiente para a procura de energia.
Para os transportes a AIE apela ao fim da venda de novos veículos de combustão em 2035.
Na agricultura, é preciso atacar os pesticidas responsáveis pelas emissões de óxido nitroso (N20); é preciso modificar as dietas, comer menos carne, sobretudo carne bovina, uma vez que as vacas geram emissões significativas de metano.
É preciso fazer a renovação energética das habitações, desenvolver novos processos produtivos em diversos setores industriais como o aço e o betão. E parar a desflorestação e restaurar solos e florestas, sumidouros naturais de carbono.
Emissões de CO2 continuam a aumentar
As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) aumentaram 1,1% em 2022, alertam os cientistas do Global Carbon Project.
O CO2 proveniente de combustíveis fósseis representa cerca de dois terços das emissões de gases com efeito de estufa, estima o PNUA. Os Estados Unidos e a China representaram juntos 41% das emissões de gases com efeito de estufa em 2021.
De 1850 a 2021, os Estados Unidos – com apenas 4% da população mundial – foram responsáveis por 19% do aquecimento global, seguidos pela China (12%) e pela União Europeia (10%).
Este ano, a China deverá aumentar as suas emissões de CO2 em 4% em comparação com 2022, de acordo com o Global Carbon Project.
A Índia, com uma previsão de crescimento de emissões de mais de 8% este ano, ultrapassou a UE em 2022 para se tornar o terceiro maior emissor do mundo.
Os 10% mais ricos da população mundial emitem até 45% dos gases com efeito de estufa, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC).