Alterações Climáticas

Metano, o outro gás com efeito de estufa tão mau ou pior que o CO2

Embora invisível e sem cheiro, o metano é muito mais prejudicial do que o dióxido de carbono e os cientistas do clima consideram-no um dos principais impulsionadores do aquecimento global. De onde vem e qual o impacto que causa este gás?

Catarina Solano de Almeida

O metano (CH4) é o segundo maior contribuinte para o aquecimento global, a seguir ao CO2. De acordo com a agência da ONU para o ambiente, é responsável por cerca de 30% do aumento das temperaturas desde a revolução industrial.

Após décadas de foco no dióxido de carbono, os decisores políticos começaram a reconhecer a ameaça que o metano representa e, em 2021, mais de 100 nações assinaram o compromisso de reduzir as emissões de metano em 30% dos níveis de 2020 até 2030.

De onde vem o metano?

Cerca de 40% das emissões de metano associadas à atividade humana têm origem na agricultura, principalmente devido à digestão de ruminantes. Outros 35% provêm de combustíveis fósseis, incluindo gás natural que escapa de poços, minas e gasodutos, enquanto 20% resultam da decomposição de resíduos.

O metano, um componente essencial do gás natural, pode ser usado como combustível para fábricas de energia e para fins domésticos. No entanto, é um potente gás com efeito de estufa que, segundo os cientistas, retém o calor de forma 28 vezes mais eficaz do que o dióxido de carbono ao longo de 100 anos.

As concentrações de metano na atmosfera aumentaram mais de 150% desde o início das atividades industriais e da agricultura intensiva.

Qual o impacto do metano no clima?

À escala global, as emissões de metano são responsáveis por cerca de 30% do aquecimento desde a era pré-industrial, conforme indica o relatório de novembro do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).

A investigação mostra cada vez mais que a redução das emissões de metano é crucial para conter o aquecimento do planeta a 2ºC, preferencialmente menos, em relação aos tempos pré-industriais, a fim de evitar os piores impactos das alterações climáticas.

Diferença do impacto do metano e do CO2

O metano retém o calor de forma mais eficaz do que o CO2, sendo aproximadamente 28 vezes mais potente como gás com efeito de estufa ao longo de um período de 100 anos, de acordo com estimativas científicas.

No entanto, o metano tem uma vida atmosférica mais curta em comparação com o CO2. Enquanto o CO2 pode permanecer na atmosfera por séculos, o metano tem uma vida útil mais curta, em torno de uma década.

Assim, embora o metano seja mais potente em termos de aquecimento global de curto prazo, as emissões contínuas de CO2 têm um impacto cumulativo maior ao longo do tempo devido à sua persistência na atmosfera.

O que os grandes poluidores estão a fazer?

A indústria dos combustíveis fósseis não está a conseguir combater as emissões de metano, apesar das suas promessas de descobrir e reparar infraestruturas com fugas, de acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) publicado em fevereiro de 2023.

No setor da energia, o metano é emitido intencionalmente através de ventilação e por acidente em locais como tanques de armazenamento de gás, terminais de gás natural liquefeito (GNL), estações de compressão de oleodutos e locais de processamento de petróleo e gás.

Em 2022, a indústria global de energia libertou aproximadamente 135 milhões de toneladas de metano na atmosfera, ultrapassando os níveis de 2020 e 2021 e ficando apenas ligeiramente abaixo da quantidade recorde libertada em 2019, de acordo com o relatório.

Cerca de 60% das emissões globais de metano são atribuídas a atividades humanas, com a maior parte originada na agricultura, eliminação de resíduos e produção de combustíveis fósseis.

A sua concentração na atmosfera está atualmente a aumentar a uma taxa de cerca de 1% ao ano, segundo a Agência Espacial Europeia.

Os grandes emissores de gases poluentes

Energia, agricultura, construção, transportes, indústria e florestas: segundo a ONU estes são os setores que têm de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa - dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (NO2).

  • Energia

A produção de energia é dos maiores responsáveis pelas emissões poluentes, sobretudo a produção de eletricidade.

  • Carvão

As centrais a carvão são responsáveis por 40% das emissões poluentes para produção de energia e devem ser abandonadas.

O plano da Agência Internacional de Energia (AIE) prevê a neutralidade carbónica no setor elétrico em 2040, o que significa instalar quatro vezes mais capacidade solar e eólica até 2030 do que em 2020.

  • Transportes, agricultura e indústria

O problema é que a eletricidade verde não é suficiente para a procura de energia.

Para os transportes a AIE apela ao fim da venda de novos veículos de combustão em 2035.

Na agricultura, é preciso atacar os pesticidas responsáveis pelas emissões de óxido nitroso (N20); é preciso modificar as dietas, comer menos carne, sobretudo carne bovina, uma vez que as vacas geram emissões significativas de metano.

É preciso fazer a renovação energética das habitações, desenvolver novos processos produtivos em diversos setores industriais como o aço e o betão. E parar a desflorestação e restaurar solos e florestas, sumidouros naturais de carbono.

Emissões de CO2 continuam a aumentar

As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) aumentaram 1,1% em 2022, alertam os cientistas do Global Carbon Project.

O CO2 proveniente de combustíveis fósseis representa cerca de dois terços das emissões de gases com efeito de estufa, estima o PNUA. Os Estados Unidos e a China representaram juntos 41% das emissões de gases com efeito de estufa em 2021.

De 1850 a 2021, os Estados Unidos – com apenas 4% da população mundial – foram responsáveis ​​por 19% do aquecimento global, seguidos pela China (12%) e pela União Europeia (10%).

Este ano, a China deverá aumentar as suas emissões de CO2 em 4% em comparação com 2022, de acordo com o Global Carbon Project.

A Índia, com uma previsão de crescimento de emissões de mais de 8% este ano, ultrapassou a UE em 2022 para se tornar o terceiro maior emissor do mundo.

Os 10% mais ricos da população mundial emitem até 45% dos gases com efeito de estufa, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC).

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