Os fungos armazenam um terço do dióxido de carbono (CO2) emitido pelos combustíveis fósseis pelo mundo e podem ser essenciais para atingir o nível zero de emissões (net zero), revela um novo estudo.
Numa metanálise publicada a 5 de junho na revista científica Current Biology, os cientistas concluíram que os fungos micorrízicos absorvem anualmente 13,12 gigatoneladas de equivalentes de dióxido de carbono (CO2e) - o que representa 36% das emissões globais anuais dos combustíveis fósseis - mais do que a China emite a cada ano.
Os investigadores apelam por isso a que os fungos sejam mais valorizados e considerados nas políticas de conservação e biodiversidade, por serem cruciais não só para armazenar carbono e assim manter o planeta mais frio, mas também são essenciais para a biodiversidade global.
Fungos, os heróis secretos do equilíbrio da vida na Terra
Há mais de 450 milhões de anos que os fungos micorrízicos são os heróis secretos do equilíbrio da vida na Terra, nas vastas redes subterrâneas que formam em todo o planeta sob pastagens e florestas, estradas, jardins e casas em todos os continentes.
As micorrizas são associações simbióticas mutualistas que se estabelecem entre fungos e raízes de plantas: esses fungos são essenciais para fornecer às plantas os nutrientes essenciais do solo, garantindo o seu crescimento e sobrevivência.
Já se sabia que esses minúsculos organismos formam relações simbióticas com quase todas as plantas terrestres e são os canais vitais que transportam carbono para os ecossistemas do solo - entre 70 a 90% das plantas terrestres têm uma relação simbiótica com os fungos micorrízicos.
Assim, os cientistas já desconfiavam que uma quantidade substancial de carbono seria transportada para o solo através das redes formadas por esses fungos. Mas até agora não era conhecida a real quantidade de carbono que o fungos armazenam debaixo de terra.
Uma equipa internacional de cientistas realizou então esta metanálise de centenas de estudos que se debruçaram sobre este processo para determinar esse valor. Mais estudos são no entanto precisos para perceber durante quanto tempo é que esse dióxido de carbono fica capturado debaixo da terra.
Emissões de CO2 contribuem para o aquecimento global
As emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis para energia são um dos principais fatores que contribuem para o aquecimento global.
De acordo com o serviço estatístico da UE, Eurostar, as emissões de CO2 provenientes da combustão de combustíveis fósseis (petróleo e produtos petrolíferos, gás natural, carvão e turfa) para utilização energética nos 27 atingiram quase 2,4 gigatoneladas em 2022.
No ano passado, as emissões de CO2 recuaram em 17 Estados-membros e aumentaram nos outros nove, com as maiores descidas homólogas a serem registadas nos Países Baixos (-12,8%), Luxemburgo (-12%), Bélgica (-9,7%) e Hungria (-8,6%).
No extremo oposto, a Bulgária apresentou a maior subida nas emissões (12%), seguida por Portugal (9,9%) e Malta (4,1%).
Combate às alterações climáticas
No acordo do clima em Paris de 2015, os líderes internacionais concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos tempos pré-industriais. Até agora, o mundo aqueceu cerca de 1,1 graus Celsius.
A este ritmo atual, a ONU alerta que 90% dos solos estarão degradados até 2050, catastrófico para conter as alterações climáticas e o aumento das temperaturas, para as culturas e plantas.
“Os ecossistemas do solo estão a ser destruídos a um ritmo alarmante pela agricultura, desenvolvimento e outras indústrias, mas os impactos mais amplos da destruição das comunidades do solo são mal compreendidos. Quando interrompemos os antigos sistemas de suporte à vida no solo, sabotamos os nossos esforços para limitar o aquecimento global e minar os ecossistemas dos quais dependemos".