Um dos fundadores da cadeia de gelados Ben & Jerry's, Jerry Greenfield, deixou a empresa e acusou a multinacional Unilever, proprietária há duas décadas, de "silenciar" o seu ativismo social, que inclui a oposição à guerra em Gaza.
"Após 47 anos, Jerry tomou a difícil decisão de sair da empresa que construímos juntos. Partilho as suas palavras após a sua demissão da Ben & Jerry's. O seu legado merece ser fiel aos nossos valores, não silenciado pela Magnum", a divisão de gelados da Unilever, escreveu no X o outro cofundador, Ben Cohen.
De acordo com a carta de Greenfield partilhada por Ben Cohen, o empresário de gelados afirmou que, quando a Unilever comprou a Ben & Jerry's, foi-lhes garantida "independência" para promover os seus valores de "paz, justiça e direitos humanos, não como conceitos abstratos, mas em relação a acontecimentos reais".
Segundo Greenfield, a missão social e os valores da empresa estavam integrados na sua estrutura "para sempre", mas a Unilever alegadamente não os respeitou, numa altura em que a administração norte-americana de Donald Trump "ataca os direitos civis, o direito ao voto, os imigrantes, as mulheres e a comunidade LGBT".
"Defender os valores de justiça, equidade e a nossa humanidade partilhada nunca foi tão importante, e mesmo assim a Ben & Jerry's foi silenciada e marginalizada por medo de irritar aqueles que estão no poder", criticou.
A Unilever rejeitou as acusações num comunicado, afirmando que tentou ter "uma conversa construtiva" com os cofundadores e expressou o seu compromisso com a sua missão "produtiva, económica e social" e com a continuação do "seu legado de paz, amor e gelado".
Os desentendimentos entre a Ben & Jerry's e a Unilever começaram em 2021, quando a marca de gelados anunciou que não renovaria a licença da franquia israelita Avi Zinger, argumentando que operar nos territórios palestinianos ocupados violava os seus "valores fundacionais". A empresa multinacional vendeu então esses direitos comerciais à israelita.
No início de 2025, a Ben & Jerry's processou a Unilever, acusando-a de demitir o seu diretor executivo David Stever por causa do seu ativismo social e sem a aprovação do seu conselho de administração.
A fabricante de gelados acusou então a Unilever de a impedir de publicar mensagens contra a discriminação racial ou em apoio ao ativista pró-palestiniano Mahmoud Khalil, detido por agentes da Imigração, uma acusação que coincide com uma ação judicial anterior, de 2024, por alegadamente censurar o seu apoio aos palestinianos.
A Unilever anunciou no início de 2024 que separaria a sua divisão de gelados, batizada Magnum, e espera-se que o processo seja concluído no final deste ano.