Economia

Apagão geral: “Espanha cai e nós caímos numa fração de segundo?”

O apagão aconteceu no momento em que Portugal estava a importar eletricidade de Espanha. Esta dependência do país vizinho tem sido muito criticada. Até porque há quem defenda que Portugal tem capacidade para ser autosuficiente em termos energéticos.

Portugal tem atingido máximos históricos na produção de energia renovável. Há cada vez mais instalações de painéis solares de norte a sul do país e nos primeiros dias deste ano o consumo de eletricidade foi abastecido com 72% de energia limpa.

Às vezes a produção é tanta que é preciso parar. Foi o que aconteceu, por exemplo, no último fim de semana de março, como noticiou o Expresso. Mas também se vai buscar energia a Espanha, onde as condições de vento e de sol são semelhantes às portuguesas. Com preços baixos, torna-se mais interessante importar do que produzir cá.

"Então você está dependente 30% de Espanha, conscientemente, tendo potencias intermitentes como as solares e as eólicas, no grosso da coluna. Espanha cai e nós caímos redondos no chão numa fração de segundo? Portugal é um país independente que eu saiba, há quase mil anos", diz Clemente Pedro Nunes, especialista em energia.

Mas essa independência pode sair cara.

"Se hoje temos um preço de 5€/MW, que são 5 cêntimos para quem paga fatura, é isto que se traduz, o preço mais tudo o resto em cima, mas é um preço muito baixo. Tem a ver com o facto de conseguirmos ir buscar energia onde ela é mais barata e está disponível. Vale para eletricidade como para uma série de outras coisas, frutas, legumes, carros", explica Pedro Silva, especialista em energia da DECO.

O restabelecimento da rede elétrica, esta segunda-feira, ficou depende da central hidroelétrica de Castelo de Bode e da central a gás da Tapada do Outeiro. As duas únicas no país equipadas com sistemas arranque autónomo que funcionam mesmo quando toda a rede está indisponível.

Foram a solução para resolver o problema causado pela dependência externa num país que poderia ter condições para ser autossuficiente.

"Nós temos em Portugal uma capacidade de produção instalada, teoricamente pronta a funcionar, teoricamente, de 22 mil MW. O que estava a ser consumido na altura andaria pelos 8 mil MW. Portanto a potência disponível é muito grande. Está é mal planeada", diz Clemente Pedro Nunes.

"Para isto acontecer, alguém terá de pagar estes investimentos. Ou construímos centrais termoelétricas ou investimos em nuclear. O que tem um custo. Com o que existe neste momento, não é possível e para o consumidor implica uma fatura que iria crescer exponencialmente para conseguir este tipo de independência", avisa o especialista em energia da DECO.

Para o especialista em energia da DECO a solução não passa por tentar produzir tudo cá, mas sim por apostar em mais interligações que permitam receber energia de mais locais o que ajudaria num apagão como o de segunda-feira.

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