Economia

"Famílias com crianças têm mais pobreza, em particular as monoparentais"

"Destacam-se as famílias monoparentais que são em cerca de 80% de meninas. Uma em cada três destas famílias está em situação de facto de pobreza", realça o sociólogo Fernando Diogo, em entrevista na SIC Notícias.

SIC Notícias

O risco de pobreza em Portugal aumentou pela primeira vez em sete anos e foi entre as crianças e jovens que se agravou mais. Os dados são divulgados esta quinta-feira pela Pordata, a propósito do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza. O relatório mostra que um em cada dez trabalhadores continua a ser considerado pobre. Fernando Diogo, sociólogo e professor da Universidade dos Açores, diz que o aumento do custo de vida é o principal desafio para quem vive na pobreza. O especialista refere que metade dos pobres em Portugal são trabalhadores com salários baixos.

O problema da pobreza afeta principalmente a Área Metropolitana de Lisboa, onde registou um aumento de 4%, comparando com a média de 0,6% a nível nacional. As restantes regiões viram a sua taxa de pobreza diminuir ou manter-se

“Há uma hipótese, mas é apenas uma hipótese que tem a ver com os emigrantes e uma certa concentração dos imigrantes com salários muito baixos, porque é preciso não esquecer que o que está aqui associado a esta persistência da taxa de pobreza são os salários muito baixos”, explica Fernando Diogo sobres os elevados índices de pobreza na Área Metropolitana de Lisboa.

“Quando se fala em 10% dos trabalhadores pobres, isso significa que mais de metade dos pobres, visto agora na ótica dos pobres, são trabalhadores, muitos são efetivos nas suas empresas e não têm nenhuma relação especial com o sistema de proteção social”, acrescenta.

Crianças e jovens mais afetados pela pobreza

O relatório da Pordata mostra que um em cada dez trabalhadores continua a ser considerado pobre. Situação mais grave nas famílias monoparentais com dependentes, em que o rendimento não chega a 600 euros por mês. Sobre os jovens e as crianças, as populações que são mais afetadas por esta questão da exclusão, o sociólogo refere que “não é um fenómeno exclusivamente português, é um fenómeno que se verifica um pouco por toda a Europa”.

Tem a ver essencialmente com uma coisa: os jovens são consumidores, portanto, entram para o cálculo dos gastos na família, mas não trazem recursos à família e, portanto, claramente que são as famílias com crianças que têm mais pobreza do que as famílias sem crianças e em particular destacam-se as famílias monoparentais que são em cerca de 80% de meninas. Uma em cada três destas famílias está em situação de facto de pobreza”, detalha o professor da Universidade dos Açores.

Medidas para reduzir a taxa de pobreza

Para combater esta situação de pobreza, Fernando Diogo destaca as medidas de apoio direto ao rendimento das pessoas mais pobres, melhoria dos ordenados e das reformas, que são os fatores mais relevantes para reduzir a taxa de pobreza.

“É preciso também alterar a especialização produtiva da economia portuguesa, que está muito assente em setores de atividade, que pagam mal, onde a precariedade é grande, como por exemplo o turismo, que tem estado em grande euforia, mas de facto o turismo é bom para os patrões, mas não é assim tão bom para os trabalhadores”, sublinha.

O especialista realça ainda “o peso crescente das dificuldades em relação à habitação”.

Últimas