Economia

Novo apoio ao crédito: “Pagamos menos, mas não poupamos"

João Duque, economista e comentador da SIC, explica porque é que o desconto na taxa Euribor, que deverá ser aprovado pelo Governo, pode significar um aumento da dívida das famílias portuguesas.

SIC Notícias

João Duque

O Governo deverá aprovar esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, várias medidas de apoio às famílias. Um delas consistirá numa redução de até 30% nos juros do crédito à habitação. João Duque, economista e comentador da SIC, analisa o impacto que esta medida terá, a curto e longo prazo, nas famílias portuguesas.

O Executivo pretende criar um desconto na taxa Euribor durante dois anos e, depois desse período, o apoio terá de ser devolvido em diferentes fases, até ao final do empréstimo.

João Duque começa por referir que as famílias não vão pagar agora tanto em juros, mas vão ter de capitalizar e explica:

“Vão juntar os juros que não pagam agora à dívida que tinham atrás e, portanto, daqui a dois anos vão-se fazer novas contas para nessa altura, esperando que as taxas estejam mais baixas, fazer diluir aquilo que não se pagou agora ao longo do período de vida do empréstimo”.

“A palavra poupança não é a mais adequada”

O economista constata que “a palavra poupança não é a mais adequada” relativamente a esta medida, isto porque “pagamos menos, mas não poupamos porque na prática estamos a aumentar a dívida”.

Afirma que neste momento suportar o crédito à habitação, dado os baixos salários existentes, é diferente daquilo que vai ser o futuro, uma vez que daqui a dois anos, quando a medida vencer, espera-se que as taxas variáveis voltem a estabilizar e que, assim, seja possível regressar à normalidade.

“Do ponto de vista prático, para continuarem a pagar o valor que estão a pagar, eu recomendaria manterem esse esforço para evitar que depois tenham de pagar e beneficiem totalmente das descidas de taxas”, aconselha.

Contudo, alerta que quando as taxas descerem, quem adotou esta medida não irá beneficiar tanto como quem não adotou.

Apesar de reconhecer este facto, frisa que o apoio serve “para diluir no tempo um esforço que agora era sobre-humano e impossível de aguentar”.

“A questão importante”

Para o comentador, o facto de nada impedir o Banco Central Europeu (BCE) de continuar a subir as taxas de juro é “a questão importante”. Nesse sentido, cita a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico - que esta quarta-feira afirmou que o período em que as taxas continuarão elevadas deverá ser maior do que aquele que Christine Lagarde, presidente do BCE, admitiu.

“Só no final de 2024, pelo menos, é que poderemos começar a pensar em descidas de taxas, o que significa que teremos um ano de 2024 muito difícil porque os preços não vão baixar, portanto, mesmo que a inflação pare, isto significa que os preços ficam ali e o que quer dizer que nós gastamos a mesma coisa no cabaz do que estamos a gastar agora. Em cima disto, juros que estão a pressionar muito as famílias com as prestações mensais”, lamenta.

O economista prevê ainda que a taxa de inflação deverá subir em setembro muito por culpa da subida do preço dos combustíveis.

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