Num momento em que Portugal tem como pano de fundo a ameaça de uma bolha imobiliária, em que as taxas Euribor atingem quase diariamente novos recordes, e os preços registaram o maior aumento dos últimos 30 anos, há mais um dado pouco animador a ter em conta. O número de casas à venda caiu para mínimos de 15 anos.
Os dados foram apurados pelo Confidencial Imobiliário no âmbito da base de dados SIR-Sistema de Informação Residencial. Mas vamos a números.
No 4. trimestre de 2022, ou seja, nos meses de outubro, novembro e dezembro, o registo de oferta residencial atingiu “mínimos de cerca de 15 anos, contabilizando-se cerca de 47.200 fogos para venda em Portugal Continental”. Desta oferta, 17.600 fogos eram novos (37%) e 29.600 usados (63%).
“Este é o volume trimestral de oferta mais baixo desde meados de 2007 e consolida dois anos de sucessivas reduções na carteira de habitações disponíveis para venda no país”, refere o Confidencial Imobiliário, explicando que apesar de “ténues” estas contrações “refletem uma trajetória persistente”.
A prova é que os "47.200 fogos registados no 4.º trimestre de 2022 ficam 25% abaixo dos níveis observados no arranque de 2021, quando se contabiliza um volume de cerca de 63.000 unidades”.
“A tendência de redução da oferta tem sido visível tanto na habitação nova como na usada, refletindo a dupla circunstância de existir uma baixa capacidade de reposição de produto novo e uma procura em expansão, o que tem resultado também num elevado ritmo de absorção dos fogos existentes. Esta falta de oferta estrutural continua a ser uma das principais razões para que o ritmo de valorização se mantenha tão elevado”, destaca Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário.
Lisboa e Porto são as regiões piores
Sem surpresas, a tendência de redução foi especialmente “evidente nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto”. No 4.º trimestre de 2022, eram no total 20.700 os fogos na região de Lisboa, ou seja, “também um mínimo de 15 anos e em contraste com um stock trimestral na ordem dos 29.000 registados dois anos antes”.
Já na Área Metropolitana do Porto (AMP), o volume de oferta os últimos três meses do ano “somava pouco mais de 7.000 unidades”. Nesta região, e ainda que a oferta “apresente um comportamento menos consistente - com os trimestres a oscilarem entre um comportamento de redução e de expansão -, a realidade de mercado é também atualmente bastante diferente do virar da década anterior”.
Entre 2009 e 2012 a AMP chegou a ter “mais de 20.000 fogos por trimestre em oferta (…), e apesar da tendência de decréscimo, o stock do 4.º trimestre não é o mais baixo de 15 anos, equiparando-se à realidade de meados de 2019”.