Em Portugal, só a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Banco Comercial Português (BCP) participaram nos testes de stress europeus que avaliaram o impacto de um cenário económico altamente negativo para o sector bancário e tiveram resultados diferentes.
Ambos sofreriam um forte impacto no cenário adverso, em que a pandemia de Covid-19 continuaria a ter efeitos económicos até 2023, mas o rácio de capital do BCP seria, num caso assim, atirado para um valor inferior ao da média dos concorrentes europeus.
A Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla inglesa) realizou mais uma vez testes de stress, em que pretendeu perceber a resistência do sector a cenários de crise, avaliando 50 bancos de 15 países europeus, o que cobre 70% dos ativos do sector na União Europeia. Os resultados foram divulgados esta sexta-feira, 30 de julho.
Na prática, o que acontece nestes testes é que há o rácio de capital “verdadeiro” de cada banco, que tem 31 de dezembro de 2020 como referência, que é sujeito depois a dois testes: o cenário base, em que tudo acontece consoante a evolução económica esperada; e o cenário adverso, onde são experimentados desempenhos económicos mais nefastos.
A base de partida dos bancos europeus - de fim de 2020 - foi a mais forte de sempre: 15% do rácio Common Equity Tier 1 (CET1), o indicador que mede o peso dos melhores fundos próprios de cada instituição.
Em toda a Europa, “o cenário adverso teve um impacto de 485 pontos base [4,85 pontos percentuais] no rácio de capital CET1 dos bancos na sua total aplicação (497 pontos base com a aplicação transitória das regras), levando o rácio de capital para 10,2%”. Esse seria o rácio no final de 2023 de três anos adversos. A destruição de capital da banca europeia ascenderia a 265 mil milhões de euros.
Macedo satisfeito
Ora, os resultados individuais dos bancos europeus são distintos e, em Portugal, isso também acontece.
A CGD partiu com um rácio já superior à média europeia: 18,22%. No cenário base, chegaria a 2023 com um rácio de 19,35%, enquanto que no adverso havia uma quebra de 300 pontos base para 15,22%, em 2021, e 15,34%, em 2023. A descida seria inferior à média europeia. A CGD tem este ano de ter um CET1 acima de 9,02%, segundo foi definido pelo Banco Central Europeu no início do ano, o que continuaria a ter.
Os resultados foram divulgados pela EBA durante a conferência de imprensa de apresentação de resultados da Caixa, que se realizou este ano, em que Paulo Macedo comentou que o desempenho do banco foi positivo. “O décimo melhor resultado em 50 bancos”, disse.
Já no BCP, a quebra no rácio de capital seria mais intensa e quando o ponto de partida já era mais baixo: 12,2%. Em 2023, e num cenário base, o rácio subiria a 13,83%, mas no cenário adverso desceria aos 8,16% este ano, e aos 8,14%, dois anos depois. Seria um impacto de 400 pontos base que, embora inferior à queda da banca europeia, levaria o rácio do BCP para 8%, de pior qualidade que a média. Para se ter uma ideia, o BCE determinou que o banco liderado por Miguel Maya teria, este ano, de ter um CET1 mínimo de 9,27%.
Deutsche abaixo de BCP, Monte dei Paschi com rácio negativo
O BCP seria um dos dez bancos com rácios mais baixos, grupo onde estão instituições como o Société Générale, o Bank of Ireland, o espanhol Sabadell e até o alemão Deutsche Bank. Nota para o italiano Monte dei Paschi, que ficaria com um rácio negativo (-0,10% em 2023, no cenário adverso).
De bancos espanhóis, o Santander teria também menos de 10% de rácio de capital (mas aqui é todo o grupo), tal como o BBVA, mas acima do BCP.
Ao contrário do que acontecia inicialmente, estes testes europeus não têm nem chumbos, nem aprovações. O objetivo é que os resultados sejam levados em linha de conta pela gestão nas suas decisões, como também quando os supervisores, neste caso o Banco Central Europeu, definem os requisitos de capital.