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Juan Izquierdo: o destino não foi apenas mau, foi perverso

Artigo de opinião de Duarte Gomes. Como é que pessoas tão jovens, altamente atléticas e escrutinadas medicamente, podem falecer com estas patologias? A verdade é que há várias (muitas) explicações médicas que o justificam.
Ernesto Ryan

Duarte Gomes

Juan Izquierdo, jovem jogador do Nacional (equipa de futebol uruguaia) faleceu esta semana na sequência de uma arritmia cardíaca que sofreu em pleno relvado do Morumbis, casa do São Paulo, em jogo da Libertadores.

Izquierdo, de apenas 27 anos, sucumbiu cinco dias depois de se ter sentido mal, sendo a causa oficial do óbito "morte encefálica na sequência de paragem cardíaca".

Infelizmente o número de atletas que morrem em ambiente de treino ou competição é significativo, sendo que na nossa memória coletiva ainda paira a imagem de Féher a sorrir, antes de fechar os olhos pela última vez.

Por muito que possa chocar essa aparente contradição - como é que pessoas tão jovens, altamente atléticas e escrutinadas medicamente, podem falecer com estas patologias? - a verdade é que há várias (muitas) explicações médicas que o justificam.

Não sou especialista, pelo contrário, mas li e ouvi vários catedráticos na matéria. Percebi que este mal, o dos enfartes de miocárdio e doenças daí decorrentes, têm causas distintas, sendo que muitas delas não são detetadas nos habituais exames médicos que os jogadores fazem regularmente.

A nota importante a salientar é que raramente, muito raramente há situações de negligência médica ou falta de cuidado na forma como os atletas são acompanhados.

Os atuais exames médico-desportivos que hoje se realizam um pouco por todo o lado de forma padronizada, obedecem a critérios rigorosos e são analisados com a devida atenção, sobretudo no que se refere ao coração.

Aliás, foram muito os atletas (e árbitros) que interromperam ou terminaram precocemente as suas carreiras por força de patologias detetadas em eletrocardiogramas e ecografias de rotina, depois sujeitas a exames de diagnóstico mais profundos.

O problema é que nem tudo se deteta e é por isso que a predisposição genética de uns ou um conjunto de patologias "invisíveis" de outros pode levar a desfechos como aquele que tragicamente vitimou o jovem uruguaio, pai de uma menina de dois anos e de um bebé nascido... nove dias antes.

O destino não foi apenas mau, foi perverso.

A única nota positiva desta enorme fatalidade é a forma como o mundo de futebol (nomeadamente o uruguaio e brasileiro) reagiram à tragédia. As manifestações de pesar, os gestos altruístas, a forma como todos se uniram neste momento, esquecendo rivalidades desportivas, é um exemplo que deve ficar registado nas nossas mentes.

O fairplay não é uma treta. Há vida para além do jogo, mesmo quando essa torna-se mais evidente através do morte.

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