Desporto

"Há muito caos": João Almeida tece críticas ao ciclismo português

O atleta luso analisa o seu trajeto na elite do ciclismo mundial e não esquece o início de carreira quando o objetivo era sair de Portugal “o mais rapidamente possível”.

Stuart Franklin

Gabriel Mota Figueiredo

Em entrevista à revista britânica Rouleur, João Almeida, ciclista da UAE Team Emirates, fala abertamente do percurso que tem trilhado – e do que está por vir – e aborda o "caos" em que se encontra o ciclismo em Portugal.

João Almeida é, indiscutivelmente, o expoente máximo do ciclismo português da atualidade. Contudo, o atleta confessa que pensava abandonar o país, “o mais rapidamente possível”, desde o tempo em que integrava as equipas de juniores, muito por culpa dos sucessivos escândalos relacionados com doping.

"Apesar de ser português, a minha bandeira não me coloca no meio do caos. Mas para os futuros rapazes talvez seja um problema estar sempre associado a esse caos", aponta.

Assume ainda que a sua reputação foi criada "fora de Portugal", devido aos feitos notáveis que tem alcançado ao longo dos últimos anos.

Da ‘maglia rosa’ em Itália à mudança para a UAE Team Emirates

O atleta natural de Caldas da Rainha disputa a categoria de elite desde 2017, mas os holofotes viraram-se para si em 2020 quando, com apenas 22 anos, conquistou um honroso quarto lugar no Giro de Itália depois de ter passado quinze dias na liderança da prova.

"Bons tempos, muito bons tempos", recorda com nostalgia o corredor.

Depois da prestação hercúlea pelas estradas transalpinas, João Almeida percebeu que talvez pudesse estar no início de algo maior:

"Depois do Giro pensei: 'Ok, talvez isto tenha sido um caso isolado. Fiz isto uma vez e pronto. Será que o posso fazer duas vezes?"

A dúvida virou uma certeza - cada vez mais vincada com o passar do tempo. Logo em maio do ano seguinte, no mesmo Giro onde por pouco não subiu ao pódio uns meses antes, o ciclista luso conquistou o sexto lugar na classificação geral, o que despertou a atenção da equipa UAE Team Emirates.

"As coisas voltaram a correr bem, com exceção de um dia mau que, por vezes, faz parte do jogo, e pude sentir que, sim, eu era realmente um corredor de 'Grand Tour'", conta.

Nas temporadas que se seguiram, já com as novas cores, João Almeida voltou a competir na prova italiana onde em 2022 desistiu à 18.ª etapa, após ter contraído covid-19, e em 2023 conquistou um lugar no pódio (3.º).

Desde a mudança de equipa, o atleta juntou também ao currículo um quinto (2022) e um nono lugar (2023) na Vuelta a Espanha.

“Não sinto que esteja no meu auge”

Apesar de integrar o rol de ciclistas de elite há já algum tempo, Rui Costa não é um nome unânime quando se fala em favoritos à conquista das principais provas. Porquê? O português reconhece que o seu estilo conservador alimenta essa ideia:

"Sim, sim eu sei. Mas não sinto que esteja no meu auge e sinto que ainda tenho algo para desenvolver e evoluir. Não tenho a certeza de quanto e se será suficiente para a vitória, mas estou tranquilo em relação a isso".

Os segredos para o sucesso

Para o 'Duro das Caldas' - uma das alcunhas que lhe é conhecida - a chave para o sucesso está, entre outras coisas, na autoconfiança. "Talvez algumas pessoas fiquem surpreendidas, outras nem por isso. Desde que eu esteja feliz comigo próprio e satisfeito...", afirma.

Diz ainda que gosta de "sentir a evolução" e de ver os seus "números a progredir". Confessa que para se manter na primeira linha do ciclismo mundial "é preciso ter uma mentalidade forte, não se cansar de pesar a comida, ser profissional e estar sempre a 200%".

"Só me imagino como ciclista. Para mim só existe o ciclismo", esclarece.

O corredor, que confessa – sem surpresas – querer ser conhecido como o vencedor de uma grande volta, já traçou o plano competitivo para 2024. E, pela primeira vez em alguns anos, não vai participar no Giro de Itália. Mas, por outro lado, vai estrear-se no Tour de França, antes de disputar a Vuelta a Espanha.

"É muito emocionante (...) Depois do pódio do Giro, senti que estava pronto para passar para o 'Tour' e a equipa respeitou isso", declara.

A “luta” com os melhores dos melhores

Na Volta a França Rui Costa terá como companheiros alguns dos principais ciclistas do mundo, tais como Pogačar, Adam Yates e Juan Ayuso.

O português sabe que Pogačar – o "tipo mais forte do planeta", nas suas palavras - é o principal ciclista da equipa dos Emirados árabes Unidos, mas isso não é, de todo, um fator que o desmotiva. Pelo contrário:

"Se tiver de puxar pelo Tadej, fá-lo-ei com um sorriso na cara. Será um prazer correr para ele".

Ainda sobre competir ao lado da 'nata' do ciclismo, o atleta explica que em todas as corridas "há um Roglič, um Remco ou um Vingegaard", o que torna difícil - não impossível - a tarefa de vencer.

"Estou muito contente com a forma como as coisas têm corrido, e esta época só quero subir um ponto, ficar um pouco mais forte. A minha mentalidade é sempre a mesma: pernas. É tudo uma questão de pernas", reitera.

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