É nestes momentos que se percebe a força e impacto que figuras com maior notoriedade têm junto dos outros, através do que fazem ou dizem.
O exemplo dado pelo treinador da Roma - não tenho dúvidas, sob a forma de desabafo pontual e sem qualquer intenção de fazer perigar a integridade física do juiz britânico - tem de fazer-nos refletir a todos sobre as consequências nefastas que gestos ou declarações públicas podem ter junto dos rebanhos, junto das tais multidões de fiéis que, em relação a tudo o resto, são cegas, surdas e mudas.
Para quem não sabe do que estou a falar, os factos contam-se rapidamente:
- No final do jogo entre Sevilha e Roma, que a equipa italiana perdeu, o técnico dirigiu palavras "menos simpáticas" a Anthony Taylor, quando ambos se encontravam no parque de estacionamento, algum tempo após o apito final.
De entre algumas expressões tornadas públicas, destacou-se o "Vocês não têm p... de vergonha, idiotas de m...".
O presidente do Comité de Arbitragem da UEFA, o italiano Roberto Rosseti, tentou serenar os ânimos, pedindo contenção a Mourinho, mas ali as emoções estavam claramente alteradas e de pouco serviu o apelo à calma.
Tecnicamente é até muito possível que o treinador português tenha razão - o jogo teve, de facto, alguns erros de arbitragem -, mas voltamos à velha questão que nunca deixará de o ser, enquanto não se der o salto para o patamar seguinte:
- Qualquer pessoa que não saiba exercer a sua razão no modo, tom e lugar certos, irá sempre perdê-la. Sempre. Esta é uma verdade La Palice, tão velha quanto a história da humanidade e que vale para tudo na vida.
Como sempre disse, qualquer crítica à qualidade técnica de um trabalho é sempre legítima. É aliás importante, necessária. Insulto, ameaça, ofensa ou ataque à integridade... não. Nunca o é, nunca pode ser.
Pior mesmo foi o efeito de contágio que aquele momento teve junto de umas dezenas de acéfalos mascarados de adeptos, mas que de adeptos nada têm. Taylor foi insultado, empurrado e cuspido no aeroporto da capital húngara por "tifosis" da Roma, quando tentava embarcar na companhia da sua filha e esposa (sim, os árbitros também têm família e sim, eles também têm orgulho em estar junto deles em alturas especiais).
A imagem surreal teve repercussão mundial e foi apenas... medonha. Não deve e não pode acontecer.
Aqueles instantes de pressão e quase agressão, gravados e replicados em vídeos caseiros e partilhados em Twitters, Instagrams, Faces e afins, mostraram a antítese do que deve ser o desporto. Mostraram o exato oposto do que se espera de pessoas que sabem respeitar resultados e terceiros, ainda que discordem. Ainda que se sintam lesados.
Se já é mau quando acontece intramuros (e acontece tantas vezes), é desumano quando surge a este nível. Para a história ficará a imagem gravada de um árbitro de elite, que dirigiu uma final europeia, a ser "apertado" num aeroporto, quando tentava viajar para casa com a sua família.
Tudo por força do mau perder de umas dúzias de pirómanos inebriados que por lá andavam, provavelmente incentivados pela dureza das palavras do seu timoneiro maior.
Moral da história: as atitudes têm peso. Os atos têm repercussões. Tudo o que se diz, fala ou escreve tem impacto.
Quanto mais relevante for a pessoa, quanto mais peso tiver na formação de opinião, quanto mais for seguida, maior serão os danos colaterais das suas ações.
É preciso que quem tem esse poder seja sensato e responsável. É preciso que tenham maior controlo emocional, mais calma e sensatez sob pressão, para não serem o rastilho de incêndios com proporções dantescas.
O que está feito, feito está. Fica sempre o exemplo daquilo que nunca se deve repetir no futuro, seja com treinadores, árbitros, jogadores, dirigentes…