Se um reparte os méritos por todos, outro jamais permite que alguém lhe tente roubar a fatia maior do sucesso das equipas que treina.
Se um tem sempre as palavras na medida certa, sem embandeirar em arco, outro fala demasiado e raramente mede as consequências da bazófia para os dias menos bons.
Mas a maior diferença é o tempo. Jorge Jesus começou a treinar há mais de 30 anos. Já acertou, já se enganou. Já ganhou, já perdeu. Já esteve em cima e em baixo.
Esta semana até viveu estados opostos em simultâneo. Enquanto a Luz lhe mostrava lenços brancos, o Maracanã cantava pelo seu regresso. Para ele, a amostra é maior e será sempre mais fácil identificar o bom e o mau.
Rúben Amorim, por outro lado, vive em estado de graça desde que entrou na primeira equipa do Braga e tem sido sempre a subir.
São os primeiros gloriosos passos de um treinador que, por este andar, pode vir a ser um dos grandes técnicos do futebol mundial.
Revolucionou o Sporting sem precisar de disparar um tiro. E como os resultados ajudam, nunca lhe vimos saltar o verniz.
Para ambos, no entanto, vale o mesmo. Valerá sempre o mesmo. Nenhuma vitória é eterna, poucas derrotas são fatais. Há sempre um dia seguinte. E nunca sabem se, ao virar da esquina, está uma festa ou um funeral.
Amorim até pode ser o vizinho que diz “bom dia” a toda a gente e ajuda a levar as compras dos outros inquilinos. Mas o seu estilo de comunicação, agora tão elogiado, rapidamente seria desfeito se a bola teimasse em não entrar.
Jesus pode ser o morador mais barulhento do prédio, mas, se ganhar, ninguém lhe vai dizer para baixar a música.
Os dois vão continuar a viver no luxuoso bairro da Champions. Com as suas diferenças, com os seus estilos opostos, mas nas casas que muitos acreditavam ser para Dortmund e Barcelona.
Não é um sítio nada mau para se estar. Afinal, por ali, o metro quadrado está pela hora da morte e os dois conseguiram as suas habitações com menos dinheiro do que os outros. As casas são deles. Por agora. Mas amanhã há mais...