Cultura

Gravar um filme em apenas um take? É esse o desafio do Straight 8

O concurso chega às salas de cinema nacionais pelo terceiro ano consecutivo. Os 25 melhores filmes vão poder ser vistos já esta semana tanto no Porto como em Lisboa. As sessões estão marcadas para quinta-feira às 19:30 no cinema Trindade e sexta-feira, às 21:30 na Cinemateca portuguesa.

Rita de Sousa

Gravados com uma câmara Super 8, os filmes não permitem refilmagens, edição ou pós-produção. Ao realizador, cabe a árdua tarefa de criar um filme em apenas um take e depois, sem conseguir ver o projeto final, pensar o som separadamente.

É este o mote Straight 8 e Vieira Vasco conhece-o de perto. Aos 34 anos, vive em Londres desde 2012 e há três anos que é presença assídua no concurso. Tem-se mantido sempre entre os melhores e este ano foi um dos oito realizadores que tiveram a oportunidade de estrear a curta-metragem no Festival Internacional de Cinema de Cannes.

“Chama-se KILLJOY. É um poema audiovisual sobre a minha auto sabotagem a quem eu dei o nome de KILLJOY. Veio tudo de um curso que eu fiz com um livro que se chamava o caminho do artista, muito famoso por desbloquear a criatividade e, ao fazer os exercícios do livro, percebi que poderia dar o nome a esta minha auto sabotagem e que isso facilitaria a separação na minha cabeça. O filme fala de como eu consegui identificar e matar essa minha auto sabotagem e, por isso, ultrapassá-la e criar sem obstáculos”, explicou Vasco à SIC Notícias.

O Straight 8 começou em Londres em 1999 e ao longo destes 25 anos tem juntado entusiastas de todo o mundo. Este é oterceiro ano consecutivo em que as curtas-metragens viajam até às salas de cinema nacionais.

“Foi bastante interessante ver que há uma procura porque no primeiro ano enchemos a sala. Não esgotou, mas tivemos uma sala bem composta tanto no cinema Trindade como na Cinemateca. No segundo se calhar houve menos publicidade e então os números baixaram um pouco, mas geralmente há interesse nestas estreias. Portanto, espero agora, à terceira, encher e esgotar”, explicou Vasco que impulsionou a estreia dos filmes em Portugal.

Realizador e público veem o filme pela primeira vez ao mesmo tempo

O concurso é aberto a todos e os participantes têm de realizar um filme utilizando apenas um rolo de super-8. Os 25 melhores são exibidos no ecrã IMAX do British Film Institute, em Londres. O Top 8 tem a oportunidade de estrear em Cannes. Para Vasco é essa pressão de fazer o filme em apenas um take que torna este projeto diferenciador.

“É uma sensação de adrenalina que não se compara. Já está. Não se pode voltar atrás, não se pode refazer, a não ser que se comece tudo de novo e, portanto, é essa tal liberdade que eu falo que não existe em mais lado nenhum. Uma vez que está gravado na película acabou. Ou se muda a história se correr alguma coisa mal, ou se anda para a frente e ignora-se o que tiver acontecido”.

Para que tudo corra da melhor forma é necessário planear o filme ao pormenor e ensaiar tudo para que ao clicar no botão de gravação todos saibam como agir. “Nós filmamos durante dois dias e o primeiro foi para filmar uma parte digital que ia ser filmada em super 8 e o segundo dia foi tudo de rajada”.

“Foi uma ótima experiência e depois como não sabemos se vamos ver o filme ou sequer se não vai sair tudo preto, há uma liberdade extra que se ganha ao fazer o filme (...). Eu tenho dito que não sabia fazer filmes antes de fazer este Super 8. Aí percebi que o trabalho não é o mesmo de quando se pode filmar com vários takes, mas é um exercício de organização e de preparação fulcral para qualquer realizador”.

Os filmes vão poder ser vistos dia 19, quinta-feira, às 19:30 no cinema Trindade, no Porto, de forma gratuita, e no dia seguinte, 20, na Cinemateca Portuguesa, às 21:30, mediante compra de bilhete.

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