Cultura

Dez anos de “AM” dos Arctic Monkeys: a viragem da adolescência “borbulhenta” para a idade adulta

Lançado em 2013, o quinto álbum da banda de Sheffield marcou o crescimento dos ingleses no panorama musical. É ainda para muitos considerado o melhor disco lançado pelo grupo.

Raphael Dias / Getty Images

Rafael Carvalho Ferreira

9 de setembro de 2013: Pedro Passos Coelho liderava o Governo português, Papa Francisco tinha sucedido recentemente a Bento XVI, o Benfica ainda sarava as feridas de um campeonato perdido aos 92 minutos, e os britânicos Arctic Monkeys lançavam “AM”, o seu quinto álbum de estúdio.

Alex Turner, Jamie Cook, Matt Helders e Nick O’Malley deixaram de ser os “adolescentes fluorescentes” que surgiram na cidade de Sheffield com o seu rock de garagem e amadureceram para uma mistura de pop com rock’n’roll, trocando os cabelos despenteados e sweatshirts com desenhos por penteados com brilhantina e casacos de cabedal.

“AM” mudou completamente o rumo da carreira da banda britânica, que era até então um dos porta-estandarte da onda do Indie rock do início do século XXI.

Turner e os seus “muchachos” trouxeram uma sonoridade bem diferente do que tinham mostrado ao mundo com os anteriores álbuns. "Do I Wanna Know?", "R U Mine?" e “Why'd You Only Call Me When You're High?” foram algumas das músicas que personificavam o estado de espírito do vocalista, que sofrera vários desgostos amorosos. O conjunto britânico conseguiu cruzar o lado melancólico, em "I Wanna Be Yours" e “No.1 Party Anthem”, com o seu lado cool com “Arabella” e “Snap Out of It”.

“AM” foi muito bem recebido pela crítica, que o designou como um álbum “construído com batidas portentosas, obscuras e intimidadoras, inspiradas no hip-hop com rock de titãs".

A conceituada revista NME classificou o disco como "absolutamente o melhor álbum da carreira dos Arctic Monkeys". Já o jornal The Guardian, contou que este trabalho “conseguiu conectar-se com as diferentes direções: os riffs fortes de “Humbug” e o pop de “Suck It and See” com a energia arrepiante e espírito divertido que impulsionou nos seus primeiros álbuns”.

O que é facto é que depois do lançamento do “AM”, os Arctic Monkeys conseguiram uma ascensão meteórica, que nunca tinham alcançado com os anteriores álbuns. O disco chegou ao primeiro lugar dos top's do Reino Unido, vendendo 157 mil cópias na sua primeira semana. Conseguiu ainda a tão almejada internacionalização para os Estados Unidos, onde ocupou o sexto posto nas paradas na semana de estreia naquele país.

Os “miúdos de Sheffield” começaram a esgotar salas de espetáculos e estádios por todo o mundo e tornaram-se cabeças de cartaz dos principais festivais, tendo passado por Portugal inúmeras vezes.

Depois de setembro de 2014, altura em que terminou no Brasil a “AM Tour”, a banda fez uma pausa para saborear o sucesso que o álbum lhe trouxe. Alex Turner retomou aos “The Last Shadow Puppets”, projeto que fundou em 2007 com o seu amigo de longa data Miles Kane.

Depois de AM, seguiu-se a música de elevador

Quatro anos depois, os “Macacos do Ártico” estavam de volta ao panorama musical. Em maio de 2018, “Tranquility Base Hotel & Casino” saiu cá para fora e desiludiu quem pensasse que seria uma continuidade do bem sucedido “AM”.

Alex Turner reinventou-se novamente, e sob influências de David Bowie e Pink Floyd compôs um disco com uma temática espacial e futurista, misturando o vintage, com influência da música dos anos 70. Apesar das boas críticas, o álbum dividiu os fãs, que por um lado gostaram da nova onda musical dos britânicos e de outro, consideraram que a banda retrocedeu e criou músicas para se ouvir no elevador.

Mais maduro, Turner parece não se interessar muito pelas opiniões dos outros, e em 2022, o conjunto lançou “The Car”, o seu mais recente trabalho. Dando continuidade ao que foi feito em “Tranquility Base Hotel & Casino”, os britânicos deixaram a ficção científica um pouco de lado e "voltaram à terra". Numa onda mais dinâmica, inspiraram-se em bandas como Led Zeppelin e Rolling Stones, e deram uma nova roupagem aos temas mais antigos.

Em atividade desde 2002, e após várias mudanças no seu estilo musical, os Arctic Monkeys estão num patamar em que muitos poucos alcançaram o “Olimpo da Música”, como os The Beatles, Rolling Stones, Queen ou Oasis.

Últimas