A nossa sensibilidade cinéfila leva-nos a continuar a defender a visão dos filmes, sejam eles quais forem, nas salas — é, continua a ser, uma experiência insubstituível. Ao mesmo tempo, importa olhar para a conjuntura actual de difusão sem cair em maniqueísmos paralisantes e, por fim, alheios ao prazer do cinema. Dito de outro modo: bem ou mal (umas vezes bem, outras nem por isso), as plataformas de streaming tornaram-se uma alternativa vital para todos nós, espectadores.
Assim, por exemplo: como conhecer as curtas-metragens que estão na corrida para os Óscares de Hollywood (12 de março)? Eis uma resposta possível: “Raghu, o Elefante Adoptado”, um dos cinco títulos nomeados na categoria de melhor curta-metragem documental, está disponível em streaming.
É uma produção da Índia, intitula-se no original “The Elephant Whisperers” e marca a estreia na realização de Kartiki Gonsalves.Os seus cenários naturais são esplendorosos: trata-se de dar a conhecer o Parque Nacional de Mudumalai, no sul da Índia, e em particular o trabalho aí desenvolvido por um casal — Bomman e Belli — que cria Raghu, um bebé elefante que perdeu a família.
Em boa verdade, Raghu é apenas um dos habitantes de um santuário de elefantes.Estamos perante um complexo labor de defesa ecológica que é, ao mesmo tempo, uma tradição enraizada em várias gerações das famílias de Bomman e Belli. “Raghu, o Elefante Adoptado” liga-se a uma mensagem radical de defesa da natureza, mas a sua vibração decorre, antes de tudo o mais, da depuração da sua linguagem cinematográfica: esta é uma epopeia de sobrevivência e uma lição de vida.