Cultura

A trilogia de Frances McDormand

Com o seu Óscar de melhor actriz por “Nomadland”, Frances McDormand passou a pertencer à galeria dos intérpretes já três vezes distinguidos pela Academia de Hollywood.

Frances McDormand em "Fargo" (1996): o filme dos irmãos Coen valeu-lhe o primeiro Óscar

João Lopes

Graças ao Óscar de melhor actriz por “Nomadland”, Frances McDormand entrou num “clube” muito especial. Ou seja: a galeria de honra dos que já ganharam três prémios de interpretação. Só lá encontramos mais duas mulheres, Ingrid Bergman e Meryl Streep, sendo McDormand a única que ganhou sempre na categoria principal (Bergman e Streep receberam um dos seus Óscares como secundárias). E também três homens: Walter Brennan, Jack Nicholson e Daniel Day-Lewis (sendo este o único que também ganhou sempre na categoria principal).

Claro que não faz sentido encarar estes números como expressão de um qualquer “campeonato”… Mas é um facto que a trajectória de McDormand se distingue pela capacidade de construir uma carreira sem depender da participação regular em aventuras “juvenis” de super-heróis.

Assim, o primeiro Óscar foi para a sua performance em “Fargo” (1996), retrato sarcástico de uma chefe de polícia no Dakota do Norte, não especialmente brilhantes nas suas investigações — o filme era dirigido pelo seu marido, Joel Coen, e o cunhado, Ethan Coen; voltou a ganhar com “Três Cartazes à Beira da Estrada” (2017), de Martin McDonagh, drama, tingido de tons de comédia, sobre uma mãe que pressiona as autoridades para investigarem a morte da filha [trailer].

Intérprete de enorme versatilidade, também em televisão (lembremos a mini-série de 2014, “Olive Kitteridge”, dirigida por Lisa Cholodenko), McDormand tem sido também uma actriz apostada em conseguir meios para a concretização de projectos mais “difíceis”, porque nem sempre satisfazendo os padrões correntes dos grandes estúdios. Assim aconteceu, precisamente, com “Nomadland”, de Chloé Zhao, em cuja ficha ela surge também como produtora. Na prática, isso significa que, para lá da sua trilogia como actriz, McDormand já ganhou quatro Óscares, uma vez que “Nomadland” foi eleito o melhor filme de 2020.

Resta lembrar que na contabilidade dos prémios de interpretação, conseguir melhor do que três Óscares é uma façanha ainda com uma única protagonista: Katharine Hepburn (1907-2003) ganhou quatro vezes a estatueta dourada, sempre na categoria principal, a última das quais com “A Casa do Lago” (1981), de Mark Rydell.

Últimas