Cultura

Alberto Costa e Silva ficou "pasmo" com atribuição do Prémio Camões

O escritor e historiador Alberto Costa e Silva,  de 82 anos, "ficou pasmo" quando soube ter sido distinguido com o Prémio  Camões, pois "está mais habituado a ser a júri", contou hoje à Lusa o escritor  Romano de Sant'Anna.  

Lusa
Miguel A.Lopes

Affonso Romano de Sant'Anna, autor brasileiro que presidiu o júri desta  edição do Prémio Camões, dava conta à Lusa da reação do escritor, historiador  e diplomata, antigo embaixador em Lisboa, quando soube por telefone que  tinha sido distinguido. 

Sant'Anna realçou o facto de Costa e Silva ter sido um "homem que trabalhou  nos três continentes (América, África e Europa)", e sublinhou que esta distinção  "reforça a presença da Língua Portuguesa no mundo". 

O escritor salientou a "modéstia, integridade e honestidade" do caráter  do distinguido, a quem se referiu como "uma pessoa generosa". O júri, numa curta declaração, apresentou Costa e Silva como "poeta,  memoralista, ensaísta, historiador e destacado especialista da história  de África". 

A sua ligação com o continente africano foi enfatizada por vários membros  do júri. O escritor angolano José Eduardo Agualusa lembrou a poesia de Costa  e Silva, composta quando foi diplomata em Lagos, na Nigéria, que "remete  para África", e salientou o seu trabalho historiográfico sobre a escravatura,  "ao qual nenhum africano pode passar ao lado". 

O embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, que esteve presente,  hoje, na cerimónia de anúncio do vencedor do Prémio Camões, asseverou que  Costa e Silva "teve um importante papel na reaproximação do Brasil a África,  no processo de democratização, depois da Ditadura no Brasil", que terminou  em 1985. 

O escritor moçambicano Mia Couto, que fez parte do júri, e que foi o  distinguido no ano passado, realçou que Costa e Silva, através dos seus  trabalhos de investigação, "resgatou a memória dos laços entre África, o  Brasil e Portugal, mas com arte e elegância".  "É o trabalho de alguém que se encaminha pela história, mas com qualidade  literária", disse. 

O júri, que lhe outorgou o prémio, no valor de 100.000 euros, por unanimidade,  salientou que "a obra de Alberto Costa e Silva é também uma contribuição  notável na construção de pontes entre países e povos de Língua Portuguesa".

Os jurados -- Mia Couto, Rita Marnoto, José Carlos Vasconcelos, Affonso  de Sant'Anna, António Carlos Secchin e José Eduardo Agualusa -- sublinharam  que, "mantendo a elevada qualidade literária em todos os géneros que (Costa  e Silva) praticou, a sua refinada escrita costurou uma obra marcada pela  universalidade".  "Lendas do índio brasileiro", "Perfis Brasileiros", "Livro de linhagem",  "Linhas da mão" são algumas das obras de Costa e Silva. 

O autor publicou diversos livros sobre África, designadamente "A enxada  e a lança" (1992), "A manilha e o libambo" (2002), "Um rio chamado Atlântico"  (2003) e "Francisco Félix de Souza, mercador de escravos" (2004), assim  como "Um passeio pela África" e "A África explicada aos meus filhos", que  escreveu para os mais novos. 

Em 2009, publicou "O quadrado amarelo", que reúne textos sobre arte  e literatura, "cruzando referências populares e eruditas, recorrendo à memória  e às suas experiências de viagem", segunda a editora brasileira Companhia  das Letras.  

Além de "Poemas reunidos" (2000), publicou dois volumes de memórias,  "Espelho do Príncipe" (1994) e "Invenção do desenho" (2007).  Organizou as coletâneas "Poemas de amor de Luís Vaz de Camões" (1998)  e "Antologia da poesia portuguesa contemporânea", com o ensaísta Alexei  Bueno, em 1999. Com a investigadora Lilia Moritz Schwarcz, dirigiu a edição das obras  completas de Jorge Amado, para a Companhia das Letras. 

Natural de São Paulo, é membro da Academia Brasileira de Letras, que  presidiu entre 2002 e 2003, e sócio correspondente da Academia de Ciências  de Lisboa, entre outras instituições às quais pertence, como o PEN Clube  do Brasil e Instituto Histórico Geográfico do Brasil. Diplomata de carreira, serviu Brasília em várias partes do globo, designadamente  em Lisboa, Madrid, Roma, Bogotá e Assunção. 

O escritor que é 11. brasileiro a ser distinguido com o Prémio Camões,  nestas suas 25 edições, e  foi já três vezes agraciado por Portugal, nomeadamente  com as grã-cruzes das Ordens do Infante, Militar de Sant'Iago da Espada  e Militar de Cristo. 

 

Lusa

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