Affonso Romano de Sant'Anna, autor brasileiro que presidiu o júri desta edição do Prémio Camões, dava conta à Lusa da reação do escritor, historiador e diplomata, antigo embaixador em Lisboa, quando soube por telefone que tinha sido distinguido.
Sant'Anna realçou o facto de Costa e Silva ter sido um "homem que trabalhou nos três continentes (América, África e Europa)", e sublinhou que esta distinção "reforça a presença da Língua Portuguesa no mundo".
O escritor salientou a "modéstia, integridade e honestidade" do caráter do distinguido, a quem se referiu como "uma pessoa generosa". O júri, numa curta declaração, apresentou Costa e Silva como "poeta, memoralista, ensaísta, historiador e destacado especialista da história de África".
A sua ligação com o continente africano foi enfatizada por vários membros do júri. O escritor angolano José Eduardo Agualusa lembrou a poesia de Costa e Silva, composta quando foi diplomata em Lagos, na Nigéria, que "remete para África", e salientou o seu trabalho historiográfico sobre a escravatura, "ao qual nenhum africano pode passar ao lado".
O embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, que esteve presente, hoje, na cerimónia de anúncio do vencedor do Prémio Camões, asseverou que Costa e Silva "teve um importante papel na reaproximação do Brasil a África, no processo de democratização, depois da Ditadura no Brasil", que terminou em 1985.
O escritor moçambicano Mia Couto, que fez parte do júri, e que foi o distinguido no ano passado, realçou que Costa e Silva, através dos seus trabalhos de investigação, "resgatou a memória dos laços entre África, o Brasil e Portugal, mas com arte e elegância". "É o trabalho de alguém que se encaminha pela história, mas com qualidade literária", disse.
O júri, que lhe outorgou o prémio, no valor de 100.000 euros, por unanimidade, salientou que "a obra de Alberto Costa e Silva é também uma contribuição notável na construção de pontes entre países e povos de Língua Portuguesa".
Os jurados -- Mia Couto, Rita Marnoto, José Carlos Vasconcelos, Affonso de Sant'Anna, António Carlos Secchin e José Eduardo Agualusa -- sublinharam que, "mantendo a elevada qualidade literária em todos os géneros que (Costa e Silva) praticou, a sua refinada escrita costurou uma obra marcada pela universalidade". "Lendas do índio brasileiro", "Perfis Brasileiros", "Livro de linhagem", "Linhas da mão" são algumas das obras de Costa e Silva.
O autor publicou diversos livros sobre África, designadamente "A enxada e a lança" (1992), "A manilha e o libambo" (2002), "Um rio chamado Atlântico" (2003) e "Francisco Félix de Souza, mercador de escravos" (2004), assim como "Um passeio pela África" e "A África explicada aos meus filhos", que escreveu para os mais novos.
Em 2009, publicou "O quadrado amarelo", que reúne textos sobre arte e literatura, "cruzando referências populares e eruditas, recorrendo à memória e às suas experiências de viagem", segunda a editora brasileira Companhia das Letras.
Além de "Poemas reunidos" (2000), publicou dois volumes de memórias, "Espelho do Príncipe" (1994) e "Invenção do desenho" (2007). Organizou as coletâneas "Poemas de amor de Luís Vaz de Camões" (1998) e "Antologia da poesia portuguesa contemporânea", com o ensaísta Alexei Bueno, em 1999. Com a investigadora Lilia Moritz Schwarcz, dirigiu a edição das obras completas de Jorge Amado, para a Companhia das Letras.
Natural de São Paulo, é membro da Academia Brasileira de Letras, que presidiu entre 2002 e 2003, e sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, entre outras instituições às quais pertence, como o PEN Clube do Brasil e Instituto Histórico Geográfico do Brasil. Diplomata de carreira, serviu Brasília em várias partes do globo, designadamente em Lisboa, Madrid, Roma, Bogotá e Assunção.
O escritor que é 11. brasileiro a ser distinguido com o Prémio Camões, nestas suas 25 edições, e foi já três vezes agraciado por Portugal, nomeadamente com as grã-cruzes das Ordens do Infante, Militar de Sant'Iago da Espada e Militar de Cristo.
Lusa