O professor jubilado do Instituto Superior Técnico, Jorge Paulino Pereira, revela que ficou surpreendido quando teve acesso aos documentos com informações sobre o acidente no Elevador da Glória.
"Parece que há aqui uma grande baralhação no meio disto tudo", começa por dizer, em declarações à SIC.
Jorge Paulino Pereira diz que quando se muda um cabo, "alguém deve ser responsável por isso", isto é, "alguém tem de fazer um projeto e esse projeto tem que ter caderno de encargos".
Sublinha ainda que "quando não aparece ninguém, é uma descaracterização completa e parece que se passa uma espécie de esponja sobre quem fez o relatório e quem é responsável por aquilo tudo".
"Uma coisa é certa, para se substituir um cabo, tem de haver alguém responsável por isso. E esse cabo tem de obedecer a certo tipo de regras. Por outro lado, ainda não vi ninguém falar com a empresa que pôs o cabo a funcionar."
Escolha do tipo de cabo pode estar na origem do acidente
A mudança do tipo de cabo que suportava o Elevador da Glória pode estar na origem do trágico acidente que matou 16 pessoas. A revelação é feita esta sexta-feira pelo semanário Expresso, que ouviu vários especialistas.
O cabo, trocado há seis anos, era totalmente em aço. O novo passou a ser "constituído seis cordões de 36 arames de aço com uma alma em fibra". Mudou-se o tipo de cabo mas não a forma como era fixado ao elevador e é esse o motivo que pode ter provocado o acidente.
O cabo terá perdido resistência ao aperto feito ao trambolho ao longo do tempo, devido, por exemplo, às altas temperaturas e à vibração, como explica à SIC Pedro Amaral, professor de departamento de engenharia mecânica do Instituto Superior Técnico.
“Nós temos dois materiais, o aço e o polímero, que têm rigidez muito diferente uma da outra (...) à partida no primeiro momento do aperto não constitui um problema, mas depois ao longo do tempo, aquilo que é o material no caso papel polímero vai ter uma cedência. Essa cedência, no lado do polímero é uma cedência plástica, irreversível, e com a temperatura vai deformando”, aponta o especialista.