Todos os dias, a Laura Lima e a Joana Rodrigues cuidam de pessoas que precisam de ajuda. Era o que já faziam antes da pandemia, mas agora, com o aparecimento da covid-19, deixaram de ser apenas colegas de trabalho, e aprenderam a ser companheiras e amigas.
Estão juntas, todos os dias, das oito da manhã, às sete da tarde e durante sete dias seguidos. Depois, ficam uma semana em casa e outra equipa entra ao serviço. Tem sido assim desde o início da pandemia.
"Dantes o trabalho era rotativo; era uma colega diferente a cada semana. Agora não mudamos, somos equipas fixas."
Almoçam na carrinha, porque não há tempo a perder. Visitam trinta pessoas por dia. Umas estão acamadas, outras têm algumas limitações que não lhes permitem a completa liberdade e autonomia para realizarem as tarefas diárias.
A Laura, de 25 anos, trabalha como Ajudante Familiar Domiciliária, há cinco. A Joana, entrou na equipa do Lar Dom Pedro V, na Praia da Vitória, Ilha Terceira, há apenas um ano. Mas diz estar já certa do que quer continuar a fazer.
"Este é um trabalho que envolve muita dedicação, muito amor pelas pessoas, e felizmente todas temos esse amor por elas."
Tratam da higiene diária destas pessoas, da alimentação ou simplesmente, da mudança de posição na cama, como conta o Ricardo, de 40 anos, natural da Ilha Terceira, que sofreu um acidente quando tinha apenas 17.
A mota ceifou-lhe os movimentos e deitou-o, para sempre, numa cama. Ficou tetraplégico há 23 anos, e desde essa altura, o Ricardo depende de ajuda para fazer as necessidades mais básicas que nos possamos lembrar. Refere com alegria o que sente por estas meninas, como lhes chama;
"São fundamentais, rimos conversamos e brincamos. Quando começou a pandemia e as pessoas tiveram de ficar em casa, fiquei com medo que elas não viessem. Mas vieram sempre". Diz, emocionado.
A Joana e a Laura percorrem o concelho da Praia da Vitória durante o todo o dia. Mudam de equipamento de proteção pessoal a cada casa que visitam.
Depois do Ricardo, foi a Maria de Fátima que as recebeu em casa. Aos oitenta anos, vive com o marido e o neto. Os diversos problemas de saúde prendem-na, durante quase todo o dia, ao sofá da sala ou à cama, para onde vai, depois das duas técnicas cuidarem da sua higiene.
"Isto é muito mais do que cuidar apenas da higiene, é estar com eles, é explicar-lhes coisas que alguns, por causa da idade bastante avançada ou doenças como a demência, já nem conseguem compreender. Mas tentamos na mesma, sempre."
Diz a Laura, que assegura, também, que o que nos foi dado a ver, hoje, foi apenas, uma pequena parte do tanto que passam, a cada dia, sempre que entram na casa e na vida destas pessoas.
"Nosso senhor ajude vocês e um resto de dia bom, meninas". Diz a dona Maria de Fátima, em jeito de despedida, já deitada na sua cama às quatro e meia da tarde.