Saúde e Bem-estar

Perdeu chaves, troca nomes e não sabe onde estacionou o carro: é cansaço, distração ou sinal de demência?

É comum as pessoas perderem objetos, trocarem nomes de familiares ou até se esquecerem das tarefas que iam fazer. Mas será isso sinal de cansaço ou, por outro lado, de alerta para um tipo de demência? Eis as diferenças entre o que é "normal" e o que é "preocupante".

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Rita Rogado

Levanta-se do sofá para fazer qualquer coisa mas esquece-se imediatamente. Tem uma palavra 'na ponta da língua' mas não se consegue lembrar. Colocou os óculos dentro do frigorífico. Alguém se apresenta e segundos depois já não sabe o nome. Não se lembra em que local estacionou o carro no centro comercial. Não consegue lembrar-se do nome da sua prima. Quem nunca passou por uma situação destas em algum momento da vida?

Especialistas em demência e envelhecimento explicam, ao jornal The Guardian, que situações são normais e quais as preocupantes.

Kaarin Anstey, psicóloga e diretora do Instituto de Envelhecimento da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, explica que o cérebro fica "um pouco mais lento" quando "somos jovens e estamos cansados" e à medida que envelhecemos. Mas, afinal, o que é cansaço ou distração e o que pode ser sinal de demência?

O que é "normal"?

A mesma psicóloga considera que esquecer-se do nome do filme, perder temporariamente um objeto ou demorar mais tempo a fazer uma determinada tarefa pode ser "normal" no envelhecimento.

A velocidade de processamento pode diminuir com a idade ou com o cansaço, o que é normal, aponta Amy Brodtmann, neurologista e responsável por um projeto da Universidade Monash, em Melbourne, em declarações ao The Guardian.

Já Michael Woodward, especialista em geriatria e investigador no Hospital Heidelberg Repatriation, em Melbourne, exemplifica, ao mesmo jornal, que não saber onde colocou as chaves "não é necessariamente uma preocupação".

Lapsos de cognição na rotina, como perder as chaves pode ser apenas um sinal de cansaço, acrescenta a psicóloga Kaarin Anstey.

Se se levanta do sofá para fazer uma tarefa e se esquece do que ia fazer pode ser apenas um "lapso de atenção" ou cansaço. Trocar o nome de pessoas também é normal, acrescenta.

O que é preocupante?

Começa a ser preocupante se trocar os nomes "constantemente", explica Michael Woodward. É também sinal de alerta quando os esquecimentos são frequentes e oslapsos são graves, como deixar o fogão ligado e a torneira aberta.

Problemas com a linguagem, como esquecer-se de palavras ou sentir-se bloqueado para formar uma ideia, pode ser um sinal de demência precoce. Se o discurso começa a parecer uma "mistura de palavras", em que se "atropela" no discurso e tem bloqueios, é preocupante, declara Desmond Graham, geriatra e diretor médico da Geriatric Care Australia em Sydney.

Quando as pessoas começam a perder-se em "lugares familiares" é um sinal de alerta, refere Amy Brodtmann. E acrescenta: pode ser provocado por doença de Alzheimer.

É "realmente preocupante" se algo "emocionalmente importante" aconteceu e a pessoa se esquece, como a morte de um grande amigo.

Adicionalmente, pode ser sinal de demência precoce se repetir a mesma história na mesma conversa.

Demência

A demência corresponde, de acordo com o Serviço Nacional de Saúde, a um "declínio contínuo e geralmente progressivo" de funções nervosas superiores. É o caso de perda de memória, diminuição de agilidade mental e dificuldade de expressão e compreensão.

Perder constantemente objetos de valor ou esquecer-se da comida ao lume são sintomas comuns.

Em casos mais graves, diz a mesma fonte num texto informativo, as pessoas perdem a autonomia, tornam-se apáticas e desinteressadas, têm dificuldade em controlar as emoções, fazem falsas afirmações e esquecem-se de nomes dos familiares.

A doença de Alzheimer corresponde a cerca de 50 a 70% dos casos de demência, segundo a Associação Alzheimer Portugal. Afeta uma em casa 80 mulheres, entre os 65 e os 69 anos, e um em casa 60 homens na mesma idade. Acima dos 85 anos, uma em cada quatro pessoas tem demência.

Uma alimentação saudável e atividade física pode reduzir o risco de demência. No caso haver sinais de alerta, as pessoas devem contactar, por exemplo, um médico de Medicina Geral e Familiar ou um especialista em geriatria.

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