O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa cada vez mais estudada para encontrar novas estratégias terapêuticas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Um estudo do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Escola de Medicina da Universidade do Minho, identificou que 40% das pessoas com a doença de Alzheimer sofrem de psicose, o que explica "um maior grau de patologia e de mortalidade”.
Os delírios e alucinações da psicose
Aliados à doença de Alzheimer, tanto numa fase precoce ou mais avançada, podem também aparecer sintomas psicóticos, constituídos por delírios, como por exemplo assaltos ou perseguições, e alucinações visuais ou auditivas. Este transtorno mental que leva a distorcer a perceção da realidade é, então, a chamada psicose.
“O que nós verificamos neste estudo é que tanto os delírios como as alucinações - os dois componentes sintomáticos que formam a psicose -, podem aparecer em conjunto ou separadamente”, sublinhou Francisco Almeida.
“Geralmente, o que acontece é que estes sintomas são transitórios, portanto, aparecem e desaparecem. Mas, também pode dar-se o caso que eles vão acontecendo permanentemente ao longo do tempo”, acrescentou o neurorradiologista.
No entanto, quando os doentes apresentam delírios - e com mais regularidade - significa que já têm uma forma da doença mais agressiva, fez questão ainda de referir o aluno de doutoramento.
Se hoje em dia existe uma maior compressão sobre o Alzheimer é porque a ciência já sabe que “há acumulações tóxicas específicas que se acumulam no cérebro e que são a causa para levar à neurodegeneração”.
Por outras palavras, estamos a falar de uma “redução do volume de diferentes regiões do cérebro”, referiu Tiago Gil Oliveira, também autor do estudo publicado na revista “Neurobiology of Aging”.
O desafio: implicações e estratégias terapêuticas
“Neste momento, o que nós sabemos é que a causa dos sintomas [de psicose] é a doença de Alzheimer e, portanto, nós temos que arranjar alguns tratamentos para melhorar um bocadinho a apresentação destes sintomas”, destacou o aluno de doutoramento.
“A presença da psicose nos doentes com Alzheimer demonstra que estas pessoas têm formas mais agressivas da doença”, sendo por isso “importante identificarmos muito bem os que têm psicose ou outras formas agressivas da doença, de modo a desenvolver [diferentes] estratégias terapêuticas para conseguirmos ter melhores resultados ao nível da cognição destes pacientes”, acrescentou o professor e médico neurorradiologista Tiago Gil Oliveira.
No que consistiu o estudo?
A pesquisa liderada por Francisco Almeida e Tiago Gil Oliveira contou com a colaboração da Universidade de Washington, em Seattle, e da Escola de Medicina Icahn, em Nova Iorque, ambas norte-americanas.
Os investigadores avaliaram os dados pós-morte de 178 pacientes dos EUA, através das ressonâncias magnéticas realizadas ainda em vida.
Os resultados revelaram que os doentes com Alzheimer que apresentam sintomas psicóticos têm uma maior atrofia em várias regiões do lobo temporal, sendo esta uma zona crucial para diversas funções cognitivas.
Além disso, observou-se também que a parte mais à direita do cérebro é igualmente uma das afetadas. Esta é uma “região associada a uma série de circuitos relevantes para as manifestações dos sintomas psicóticos”, explicou Tiago Gil Oliveira.
“Com esta informação, conseguimos aplicar na prática clínica de todos os outros doentes que se apresentam nos hospitais com estes sintomas e depois tentamos correlacionar com esses mesmos doentes [analisados no estudo]”, mencionou o professor da Universidade do Minho.
E agora…?
Após esta investigação surgiram, aos cientistas, novas questões e desafios: compreender as razões porque determinadas regiões do cérebro são mais sensíveis e suscetíveis à doença de Alzheimer e porque outras são mais resistentes.
“Será também preciso compreender quais é que são as moléculas que influenciam os circuitos que depois afetam os comportamentos. Com isso, podemos ter pistas não só para pensar em novos tratamentos para estas doenças, como também conferir resistência a estas regiões [do cérebro] que são mais sensíveis”, concluiu o neurorradiologista Tiago Gil Oliveira.