Saúde e Bem-estar

Neurologista explica os benefícios e riscos do novo medicamento para atrasar doença de Alzheimer

Rui Araújo, neurologista no centro de neurociências da CUF Porto, salienta que estes fármacos estão a ser desenvolvidos para uma fase em que se acha que o benefício vai ser maior, as fases mais precoces da doença.

SIC Notícias

Um novo medicamento experimental para o tratamento de Alzheimer pode retardar o agravamento da doença entre quatro a sete meses. O fármaco, chamado donanemab, está a ser desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, que já solicitou a aprovação por parte da agência federal norte-americana para os medicamentos (FDA, na sigla em inglês). Segundo um estudo divulgado esta segunda-feira, há no entanto efeitos secundários consideráveis.

É mais um medicamento que tem vindo a ser testado na doença de Alzheimer, como explica o neurologista.

"É um medicamento com uma maneira de atuar inovadora nalguns aspetos, que tem vindo a ser testado há já algum tempo, e que se consegue ligar a proteínas que estão anormais no cérebro e promover a sua remoção. Julga-se que a remoção destas proteínas vai levar então a uma melhoria clínica e é por aí que o fármaco atua".

Medicamento destinado a que fases da doença?

Estes fármacos estão a ser desenvolvidos para uma fase em que se acha que o benefício vai ser maior, que são as fases mais precoces da doença.

“Estamos a falar de pessoas que estão muito pouco afetadas pela doença, mas que já têm alguma alguma alteração decorrente dela e, portanto, são estes os doentes que se perspetiva terem algum benefício nesta nova classe de fármacos. Não é para doentes já com demência estabelecida, por exemplo, fases mais avançadas da doença em que se acha que já há uma destruição neuronal importante".

Quais são os efeitos secundários?

O neurologista refere que há riscos associados a este medicamento e os doentes a recebê-lo terão de ser constantemente monitorizados.

“Nesta classe de fármacos a questão do edema cerebral, ou seja, acumulação de líquido no cérebro, que pode ou não ter algum tipo de sintomas associados. E também aspetos relacionados com hemorragia intracerebral”.

“São efeitos adversos importantes que precisam de algum tipo de de monitorização. É por isso que nos doentes que poderão eventualmente ser indicados por este tipo de tratamento, temos que fazer algum tipo de avaliação prévia com ressonância cerebral, com uma análise muito detalhada de certos parâmetros da ressonância e depois ,não só no início, mas também em termos de evolução”.

O que é a doença de Alzheimer e que efeitos tem?

Há dois fenómenos tidos como centrais no desenvolvimento dos sintomas que que atribuímos à doença:

“Na progressão da doença de Alzheimer no cérebro, por um lado, há a tal deposição de proteínas anormais (…) tóxicas para os neurónios que leva a uma destruição de neurónios que se traduz na perda de volume, que habitualmente se chama atrofia cerebral, que se pode ver algum tipo de exames de imagem”.

Este medicamento ainda não está a ser comercializado.

“Vai ter que seguir os os procedimentos normais neste tipo de circunstâncias: aprovação nos Estados Unidos e depois eventualmente ser analisado por agências europeias e só muito mais tarde [chegará] de Portugal. Mas fica por saber se será realmente aprovado”.

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