A farmacêutica Servier Group anunciou este mês que o seu tratamento experimental contra o cancro no cérebro retardou consideravelmente a progressão de um tipo de tumor cerebral.
O medicamento vorasidenib retardou o crescimento do glioma de grau 2 durante uma média de 27,7 meses, mais que o dobro em comparação com os 11,1 meses dos pacientes que receberam um placebo.
Tumores cerebrais e graus do tumor
Os tumores cerebrais são classificados de acordo com uma escala em graus: de baixo grau (grau I) a alto grau (grau IV), explica a Liga Portuguesa contra o cancro.
Os gliomas de grau 2 são tumores cerebrais malignos progressivos, mais comuns em adultos, mas também podem ocorrer em crianças e adolescentes. Estes tumores caracterizam-se por terem uma mutação nos genes IDH 1 e 2.
Cirurgia ajuda mas não resolve
Durante décadas, as pessoas com este problema tinham de se submeter a uma cirurgia para a remoção do tumor e em seguida receber quimioterapia e radioterapia para o controlar.
São tumores incuráveis e geralmente voltam, embora se possa retardar até cinco anos. Com quimioterapia e radioterapia tem sido possível prolongar a vida do doentes entre 10 e 20 anos. Mas mais tarde, os danos provocados pela radioterapia começam a manifestar-se e surgem problemas de memória, o desempenho intelectual diminui ou torna-se difícil andar rapidamente. Normalmente, em 12 ou 14 anos, os pacientes não conseguem levar uma vida normal e independente.
A descoberta das mutações IDH, encontrada graças aos projetos de sequenciação dos genomas de dezenas de tipos de cancros iniciados em 2008, permitiu o desenvolvimento de medicamentes direcionados para inibir a ação dessa enzima danificada que envenena o cérebro.
Esta mutação genética altera a atividade de duas enzimas essenciais ao funcionamento do organismo. Continuam a desempenhar a sua tarefa mas passam a gerar um metabólito tóxico que danifica o ADN . Com o passar do tempo, os danos acumulam-se e proliferam as mutações que alimentam o crescimento do cancro.
331 pacientes para testar novo medicamento
O estudo da farmacêutica Servier Group envolveu 331 pacientes que não tinham sido submetidos a nenhum tratamento anterior além da cirurgia.
O vorasidenib melhorou significativamente a sobrevivência sem que o tumor progredisse e atrasou o tempo antes de ser necessário passar para outras intervenções como quimioterapia ou radioterapia, de acordo com os resultados publicados no New England Journal of Medicine e apresentados no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), no início de junho.
Os mais recentes progresso na luta contra vários tipos de cancro
No encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), um evento fundamental para investigadores e oncologistas de todo o mundo, que decorreu em Chicago, foram anunciadas outras boas notícias sobre avanços na luta contra vários tipos de cancro.
Pulmão
A terapia para cancro de pulmão da AstraZeneca, o osimertinibe/Tagrisso, reduziu em mais da metade o risco de morte em pacientes com uma certa forma de cancro e que foram diagnosticados cedo o suficiente para o tumor ser removido cirurgicamente
Esta nova esperança para o cancro mais mortal consiste num comprimido administrado diariamente, por vezes em complemento da quimioterapia. Reduziu o risco de morte em 51% num ensaio clínico com 682 pacientes.
"Esta é uma melhoria bastante dramática e notável", disse Dave Fredrickson, vice-presidente executivo de oncologia da AstraZeneca em entrevista à Reuters.
Estima-se que 88% dos pacientes tratados com Tagrisso estavam vivos em cinco anos, em comparação com 78% dos que tomaram o placebo.
Mama
Um tratamento testado para cancro da mama em estágio inicial mostrou uma redução de 25% no risco de reincidência, de acordo com resultados preliminares de um grande ensaio clínico.
O ribociclibe/Kisqali da Novartis tem como alvo proteínas (CDK4 e CDK6) que influenciam o crescimento de células cancerígenas.
Já é usado, em combinação com terapia hormonal, contra o cancro de mama mais comum (HR+/HR2-) em estágio avançado.
Útero
Para o cancro do colo do útero em estágio inicial com baixo risco de progressão, uma histerectomia simples (remoção do útero) não leva a maior hipótese de reincidência que uma histerectomia radical (remoção extensa do colo do útero e parte da vagina)
O estudo clínico está na fase 3 e é uma esperança de melhor qualidade de vida para as doentes operadas.
Ovários
O tratamento com anticorpos conjugados - uma espécie de pequena bomba de quimioterapia a explodir dentro do tumor - para alguns cancros nos ovários em que a esperança de vida a 5 anos é inferior a 20% e a reincidência é frequente, mostrou uma melhoria significativa na sobrevivência.
O estudo está na fase 3 de ensaio clínico.
Vacinas
Há cada vez mais vacinas terapêuticas e mais ensaios clínicos em curso.
O Instituto Curie, em Paris, apresentou um estudo sobre uma vacina terapêutica anti-HPV-16 em cancros anogenitais e um ensaio sobre vacinas personalizadas - concebidas pela biotech Transgene a partir da sequenciação individual de tumores e com ferramentas para inteligência artificial - em cancros otorrinolaringológicos.
Contra o cancro de pulmão, otorrinolaringológico, glioblastoma ou papilomavírus humano -associado a vários tipos de cancro -, há vários estudos preliminares para utilização desta nova arma.