José Sócrates enviou esta sexta-feira uma carta à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, no seguimento da investigação SIC divulgada esta quinta-feira. “Esta carta deve ser considerada como denúncia formal. Denúncia contra desconhecidos”, refere o ex-primeiro-ministro.
Uma investigação jornalística realizada pela SIC apurou que José Sócrates foi novamente investigado já depois da acusação na Operação Marquês.
A suspeita nasceu das transferências avultadas recebidas pelo antigo primeiro-ministro, a partir de 2020, na sua conta da Caixa Geral de Depósitos: 12.500 euros mensais, justificados com um contrato de consultoria com Adélio Machado, empresário e ex-piloto de automóveis que já foi à falência em França e em Espanha.
Tal como na Operação Marquês, o alerta chegou ao Ministério Público vindo da Caixa Geral de Depósitos, onde José Sócrates tem conta bancária há anos.
Sócrates insurge-se contra o Ministério Público, ao qual dirige várias acusações, numa carta com data de 23 de fevereiro. “Tornarei pública esta carta de legitima defesa. Esta é a única forma de me defender da ‘guerra suja’ que o Ministério Público decidiu fazer contra mim desde que iniciou o processo marquês, faz agora dez anos”, escreve no final da missiva.
"Senhora Procuradora-Geral,
O Ministério Público parece ter perdido qualquer sentido de decência. Desta vez, decidiram divulgar na televisão SIC uma suposta investigação sobre o meu contrato de trabalho com uma empresa internacional. Pouco importa que não haja suspeita nem fundamento para fazer qualquer averiguação. A razão de investigação sou eu – trata-se de perseguir um alvo, não de investigar um crime. Atacar-me desta forma, e atacar todos os que comigo se relacionam socialmente, é uma covardia e uma violência que há muito conheço do processo marquês. Estes métodos, Senhora Procuradora, são repugnantes.
Esta carta deve ser considerada como denúncia formal. Denúncia contra desconhecidos que, no Ministério Público, divulgaram junto do jornalista o meu contrato e a notícia de uma investigação. Bem sei que as autoridades penais parecem considerar o crime de violação de segredo de justiça como monopólio de Estado. Um crime institucional, por assim dizer. Mas acontece que ainda é crime. E que é usado contra as pessoas que o Ministério Público considera suas inimigas. Mais uma vez, estes métodos são vergonhosos.
Quero também apresentar queixa formal contra os responsáveis do banco Caixa Geral de Depósitos por denúncia caluniosa. Dei conhecimento ao banco de todas as informações pertinentes sobre o contrato e já não sou "pessoa politicamente exposta", na medida em que deixei de exercer funções públicas há cerca de doze anos. Assim sendo, tenho todas as razões para suspeitar que a atuação do banco foi politicamente motivada. Requeiro, portanto, Senhora Procuradora, a abertura do competente inquérito criminal.
Finalmente, tornarei pública esta carta de legitima defesa. Esta é a única forma de me defender da "guerra suja" que o Ministério Público decidiu fazer contra mim desde que iniciou o processo marquês, faz agora dez anos. Poder-se-ia pensar que estou já habituado. Mas não, não estou habituado. Estou tão enojado como da primeira vez.
Cumprimentos.
José Sócrates
P.S. julgo não valer a pena referir o jornalista. Afinal de contas, ele é apenas instrumental. Para um certo jornalismo, todos os que se dão comigo são suspeitos – eu suspeito por trabalhar; os outros, suspeitos por me contratarem."