Geração 70

Clara Raposo: "Os Descobrimentos inspiram-me. Como é que um país com tão poucos conseguiu tanta coisa?"

Nasceu em 1971, em Lisboa. Da infância recorda a família unida, o “bom ambiente” e as noitadas dos pais com os amigos a jogar às cartas e a discutir política. Os pais, muito jovens, eram uns “entusiastas” da mudança, conta. Hoje é “vice” de Mário Centeno no Banco de Portugal, mãe de duas filhas universitárias e é considerada “uma das portuguesas mais poderosas nos negócios”. Em conversa com Bernardo Ferrão, Clara Raposo confessa-se otimista mas admite e lamenta que Portugal investe “na educação e os jovens vão para fora”.

Bernardo Ferrão

Mariana Óca Ferreira

Nasceu em 1971, em Lisboa. Da infância recorda a família unida, o “bom ambiente” e as noitadas dos pais com os amigos a jogar às cartas e a discutir política. Os pais, muito jovens, eram uns “entusiastas” da mudança, conta. “No 25 de Abril, o meu pai pôs as colunas da aparelhagem na janela para que todos ouvissem a Grândola Vila Morena.”

Tem a quem sair, o pai era economista e a mãe professora. Foram os primeiros licenciados da família, tinham bons empregos e uma vida confortável, mas sem grandes luxos. O “grande momento da semana” era a chegada da revista da Heidi. Nunca sentiu falta de nada, mas também nunca teve “tendência” para as Barbies.

"Eu e a minha irmã não éramos muito exigentes, não fomos educadas para a lógica do consumo - porque não existia. Portugal era um país muito atrasado.”

É uma “acérrima” defensora do capitalismo e acredita que “herdou dos pais o equilíbrio e a consciência social”. Seguiu-lhes as pisadas e licenciou-se em Economia na Universidade Nova em Lisboa. Quando terminou não se sentiu “preparada” para o mercado de trabalho e decidiu ir para Londres estudar.

Estávamos em 1993, em Inglaterra doutorou-se em Finanças, na London Business School, e depois deu aulas na Universidade de Oxford, o seu primeiro emprego. Nos oito anos que por lá viveu descobriu “a pequenez” de Portugal. Viveu em várias residências e partilhou casa com alguns portugueses.

Nesta conversa com Bernardo Ferrão, recorda a experiência e lembra os dias e as noites que passava com os amigos nos pubs londrinos. Regressou mais tarde a Portugal, e em Lisboa passou pelo ISCTE e depois tornou-se na primeira mulher a assumir a presidência do ISEG. Na altura, recorda, uma escola com “pouca autoestima” e conotada “à esquerda”.

Apesar dos problemas nacionais, Clara Raposo revela-se “otimista”, mas reconhece as “carências” em vários setores. Aliás, diz mesmo que era bom que “a sociedade pensasse um bocadinho naquilo que de facto quer do Estado”.

Como ex-Dean do ISEG reflete também sobre a Educação e lamenta que os estudos superiores sejam hoje menos valorizados na folha dos ordenados.

“Continua a haver um prémio para os salários dos licenciados versus os não licenciados, mas agora esse prémio não é tão significativo”.

Mais. O país está a exportar o muito que faz na Educação: “Os nossos salários são curtos em comparação com outros da Europa. Às vezes parece que somos uma barriga de aluguer. Investimos na educação e os jovens vão para fora”.

A vice-governadora do Banco de Portugal é a nova convidada do podcast Geração 70. Numa conversa conduzida por Bernardo Ferrão, deixa uma previsão e uma certeza. Acredita que não há “motivos para nova subida de taxa de juro” e garante: “Não programei a minha vida para chegar aqui.”

“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.

Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

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