Futuro Hoje

Há mesmo um carro voador pousado no meio de Paris

Dito assim, exageramos a importância da coisa, porque de facto estamos a falar de um protótipo que, inteiro, nunca voou. Dito assim, diminui a importância de termos ali mesmo à nossa frente um seríssimo protótipo de carro voador feito em colaboração pela Italdesign e pela Airbus a grande companhia construtora de aviões na Europa, desde o ano passado também com a colaboração da Audi. Faltava aqui um grande construtor de automóveis capaz de acrescentar o seu conhecimento.

O Pop.up Next é um muito sério projecto de empresas sérias. Para voltinhas em terra e no ar

Lourenço Medeiros

Estamos, como seria de esperar nestes dias, na Viva Technology Paris, Viva Tech para quem passa por cá. A feira tem apenas três anos, é uma espécie de resposta do Governo francês à hegemonia alemã e americana nas feiras de tecnologia. Com toda a força política da França e alguns negócios importantes a ajudar, este ano começou com o Presidente Macron, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, o Presidente do Rwanda, Paul Kagame e a presidente da IBM, Ginni Romett, sentados na primeira fila.

Num longo discurso em que alternou entre francês e inglês, sublinhando sempre as boas intenções, o Presidente francês não escondeu a importância que dá à economia digital. Quer que a França recupere um lugar que foi deixando para trás e anunciou um plano de 65 milhões de euros para apoiar startups africanas em pequenos projetos e, entre os 30 e os €50.000, a ideia é obviamente chegar a muitos e bons. Obviamente alargar a influência francesa aproveitando o grande potencial de crescimento do continente africano.

Digamos que aqui na feira, Macron até foi muito bem recebido mas com certeza não podia esquecer que lá fora, em toda a cidade, se repetiam por estes dias greves contra as suas políticas sociais e sobre o mercado de emprego. Está a seguir o rumo liberalizado prometido na campanha eleitoral. Pode apelar aos jovens empreendedores e aos grandes empresários na feira de tecnologia mas torna-o a cada dia mais impopular entre muitos dos franceses.

Satya Nadella vem também para anunciar a sua colaboração com o gigante Publicis, a criação de uma espécie de mordomo virtual de uma verdadeira inteligência artificial para ser utilizada no dia a dia dos negócios deste grupo de agências do mundo da publicidade. Pela descrição feita deste super trabalhador com uma clarividência para além dos humanos, ainda vamos ouvir falar muito do Marcel - é o nome como que foi batizado.

Umas horas depois, Mark Zuckerberg foi outra das estrelas em Paris mas apenas para vir repetir o que já disse aos senadores norte-americanos e aos deputados do Parlamento Europeu, as medidas que está a adoptar para combater as notícias falsas e a interferência em campanhas de eleições em vários países. Na véspera da entrada em vigor em toda Europa das novas leis que protegem a privacidade dos consumidores, o patrão do Facebook não podia deixar de dizer que até concorda com alguma regulação, desde que seja regulação boa, e que estas leis são um passo nesse sentido.

A Viva Technology Paris está bem organizada mas vê-se nitidamente que há uma mão estatal por trás de tudo isto. Muitas startups, é certo, mas quem está a pagar o certame são os grandes grupos franceses que o Presidente muito elogiou por estarem a mudar de mentalidade e a adaptarem as empresas a este novo mundo.

É uma boa oportunidade para ver projectos válidos e menos falados como o pequeno autocarro autónomo Navya feito aqui para funcionar por exemplo em aeroportos. Uma oportunidade curiosa para ver o que está a fazer a indústria do luxo em relação à tecnologia.

Verdade se diga, a indústria das coisas muito caras aposta em tecnologia sobretudo para marketing e publicidade, não diria que os objetos em si têm mais interesse do que as versões com preços mais aceitáveis. É curioso ver a importância da alimentação saudável muito sustentada também em tecnologias de produção e como seria de esperar a enorme importância da indústria da moda e da beleza nesta feira. A L’Oreal e as marcas do grupo ocupam um dos espaços principais e com muitos projetos verdadeiramente tecnológicos.

Há, claro, espelhos surpreendentemente eficientes a mostrar aos clientes como ficarão com outra cor de cabelo ou com uma maquilhagem mesmo antes de passarem um pincel que seja sobre a cara. Mais impressionante ainda é a possibilidade que já existe, de criar uma base para a cara absolutamente personalizada. Fazem uma análise da pele e aqui vão entrar inclusive fatores psicológicos e culturais que podem variar conforme o mercado. Em minutos, uma máquina mistura uma solução com as cores vermelho, branco, amarelo e preto, numa de 72 mil combinações possíveis. É verdade que esta personalização faz com que a base custe o dobro de uma com a cor já feita, mas a cliente sai da loja com uma luxuosa embalagem com o seu nome impresso. Não há dúvida de que há mercado para este tipo de personalização. E vai chegar também aos tratamentos de pele com análise por dermatologistas.

Se quisermos definir tendências, diria que a dominante aqui em Paris é mesmo a inteligência artificial, se bem que, com muitas dúvidas quanto ao impacto real deste tipo de tecnologia. De resto nos stands viram-se muitas demonstrações variadas de realidade virtual e de realidade aumentada que na verdade não trazem nada de novo mas despertam sempre o interesse.

Mesmo sendo uma feira mais voltada para as empresas não deixa de deslumbrar qualquer interessado ou curioso no que o mundo de amanhã nos trás. Será sem dúvida o tema do próximo Futuro Hoje.

Últimas