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"Não vamos ficar por aqui": Rui Tavares pede que se vá além da resistência ao fascismo e pede união

Porta-voz do Livre, Rui Tavares, defendeu que a esquerda precisa de ter um discurso vitorioso e lamento que André Ventura seja tratado como "Tony Carreira aqui há uns tempos" .

ANTÓNIO COTRIM

Lusa

O porta-voz do Livre, Rui Tavares, defendeu este sábado que a esquerda precisa de ter um discurso vitorioso, que não se fique apenas por apelos à resistência ao fascismo, advertindo que muitos cidadãos desligam dessa retórica.

Num discurso na sessão de apresentação do candidato autárquico do Livre nas Caldas da Rainha, João Arroz, Rui Tavares defendeu que a esquerda "tem de ser pragmática" e "habituar-se a ganhar".

"Nós temos de dizer às pessoas que, por muitos pergaminhos que, no nosso campo político, tenha a ideia da resistência, estar a chamar às pessoas para apenas virem resistir ao fascismo, significa que muitas delas desligam", afirmou.

Apesar de reconhecer que há muitos cidadãos que "querem fazer parte desse movimento de resistência", seja por "memória familiar" ou sensação de "obrigação moral", Rui Tavares alertou que há também muitos outros que desligam e "pensam em viver num outro país onde a situação política esteja um bocadinho melhor".

"Não é isto que nós temos de dizer às pessoas. Nós temos de dizer às pessoas que se juntem a nós para ganhar. As pessoas têm de sentir que fazem parte de um movimento vitorioso. Não necessariamente um movimento vitorioso já, agora, porque sabemos das dificuldades que temos, mas um movimento que quer ganhar", disse.

André Ventura tratado como "o Tony Carreira aqui há uns tempos"

Rui Tavares defendeu a importância desse discurso mobilizador numa altura em que, considerou, todos os dias se ouve na televisão a "ideia de que tudo é completamente inevitável" no que se refere à degradação da democracia.

Neste ponto, o porta-voz do Livre deixou críticas à cobertura televisiva do Chega, considerando que os diretores de informação e de programação tratam o líder do partido, André Ventura, "como tratavam o Tony Carreira aqui há uns tempos: 'as audiências estão um bocadinho mais baixas, chama aquele tipo'".

"Porque, supostamente, ele diz umas coisas que fazem as pessoas ligarem a televisão... E nem nisso estão certos, porque quem diz aquilo que as pessoas querem ouvir, ao contrário daquilo que nos vendem todos os dias, somos nós e não eles", sustentou Rui Tavares.

O porta-voz do Livre afirmou que o Chega está frequentemente nos ecrãs televisivos porque "chama a atenção" de forma "politicamente eficaz, mas absolutamente inerte e estéril para qualquer coisa de bom", acusando-o de ter um discurso baseado em "sentimentos de rancor e ressentimento".

"Nós temos outra maneira de chamar a atenção, e é através daquilo a que chamamos objetos de desejo político. É mostrar às pessoas como a cidade pode ser, é falar com elas, uma a uma. Não vamos esperar ajuda de onde não vem ajuda", disse, numa alusão à comunicação social.

"Não vamos ficar por aqui"

Frisando que o Livre foi o partido que, em proporção, cresceu mais em número de deputados nas últimas legislativas, Rui Tavares pediu aos militantes do partido para não esperarem que os diretores de informação se lembrem de lhes perguntar "o que é estão a fazer bem, com a esquerda toda a diminuir e eles a aumentar".

"Vejam quantos partidos é que o Livre já vê pelo retrovisor [nas sondagens] e não vamos ficar por aqui, porque a IL está a ser agora e, acreditem nisto, a maneira de dar esperança às pessoas é irmos dizendo - mesmo que isso pareça impossível agora - que nós queremos disputar o lugar à extrema-direita", afirmou.

Rui Tavares salientou que o Livre quer ser "a novidade e o lugar mais dinâmico da política portuguesa" e fazer com que, "daqui a uns tempos", o debate político nacional seja sobre "de onde é que vêm estes tipos, o que é que eles querem e porque é que eles crescem em vez de ser a extrema-direita".

"E, ao dizê-lo, muitas pessoas vão percebendo que não há outra forma neste momento de ter alguma esperança. Que o Livre é a grande notícia e a grande maneira de fazer as coisas, que é o exato oposto das políticas do ressentimento, do rancor, do ódio e da divisão", frisou.
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