Marcelo Rebelo de Sousa garante que vai “tentar saber o que se passou” com Luís Montenegro, depois de terem vindo a público notícias a dar conta de que o primeiro-ministro se opôs à consulta pública da sua declaração de rendimentos. O Presidente da República afirma que esclarecer se não passa de um “pormenor” ou se é uma realidade “importante e com mais efeitos políticos”.
Em declarações aos jornalistas, esta terça-feira, à margem de evento no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou pronunciar-se alongadamente sobre o caso, “desconhecendo o que se passou”.
Lembrou, contudo, que terá uma audiência com o primeiro-ministro “na quinta ou sexta-feira", pelo que procurará, nessa ocasião, “saber o que se passou".
"Vou tentar saber exatamente o que se passou para saber se é uma realidade de uma certa envergadura ou de outra”, há “realidades que são pormenores e outras que são pesadas, são importantes e têm mais efeitos políticos”, afirmou o Presidente da República.
Questionado sobre se irá pedir explicações ao chefe de Governo, Marcelo respondeu que fala “de tudo o que é importante” com o primeiro-ministro. "É bem possível que isso também seja falado.”
“Dou sempre a minha opinião e o senhor primeiro-ministro também dá a sua", declarou, acrescentando não ter ainda motivos para estar “preocupado”, por não conhecer o caso.
Marcelo refere-se a Carneiro como “líder da oposição” e compara-se a ele
No dia em que recebe em Belém o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, o Presidente da República, disse também que vai ouvir o líder socialista sobre a “missão”que este tem pela frente e procurar saber quais serão os futuros posicionamentos políticos deste. Perceber como tenciona José Luís Carneiro colocar-se “perante os orçamentos de Estado" e "algumas leis fundamentais de regime".
“É uma situação muito difícil ser-se líder da oposição nas circunstâncias em que o atual líder do PS vai ser. Muito difícil. Por minha experiência o digo”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa
“Sei que é muito difícil, porque eu estive na mesma posição”, afirmou, recordando os tempos em que era líder do PSD, durante o governo de António Guterres.
“Tivemos muitos momentos de atrito, mas viabilizei três orçamentos, sem os quais o país não teria podido entrar no Euro, e consensualizámos uma revisão constitucional”, lembrou.
Marcelo Rebelo de Sousa diz que vai contar a José Luís Carneiro a sua experiência, mas acaba a reconhecer que a posição em que se encontrava “era mais fácil do que a do líder atual do PS”.
“Porque havia um partido que tinha quase maioria absoluta, não havia tantos partidos como hoje, o PSD era o partido da oposição e tinha uma posição muito forte, os outros partidos eram mais pequenos. Não era uma situação paralela à de hoje”, repara.
“Vou ver se posso ser útil, com a minha experiência do passado, nalguma opinião ou conselho que lhe der.”
INEM? É preciso evitar que falhas se repitam
O Chefe de Estado falou ainda sobre o tema da Saúde. Recusou-se a comentar o recente caso da grávida atendida em cinco hospitais diferentes e cuja bebé acabaria por morrer à nascença no Santa Maria. Mas teve algo a dizer sobre o caso da morte que terá sido causada por falhas do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que já leu o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) sobre o caso e sublinhou que, enquanto estrutura para as emergências, é grave se uma estrutura de emergência como o INEM não atuar com urgência.
“É uma estrutura para uma emergência. Podeter uma intervenção decisiva quanto à vida ou quanto à saúde de portugueses. Pode ser bem-sucedido ou malsucedido, ninguém pode garantir. Oque os portugueses que pagam esses serviços esperam é que eles estejam à altura da emergência que justifica a sua existência”, referiu.
“Há estruturas que podem atuar com uma resposta menos imediata, menos eficaz. Isso pode se censurável, do ponto de vista administrativo, mas não é tão grave quanto em situações de emergência, em que está em causa quem pensa que pode estar em risco de vida”, defendeu.
O Chefe de Estado acrescentou ainda que, seja por situações excecionais “como a greve” dos técnicos do INEM, seja pelo “funcionamento dos serviços”, é preciso "refletir” para que no futuro não se repitam situações de falhas na assistência aos doentes.