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"Agora a moda é culpar o próprio utente": as críticas e passa-culpas no caso da grávida de 34 semanas

Uma grávida de 34 semanas esperou três horas numa ambulância antes de ser encaminhada para um hospital, desencadeando críticas ao Serviço Nacional de Saúde.

Felipe Dana/AP

Ana Rute Carvalho

SIC Notícias

O caso de uma grávida de 34 semanas que esperou três horas numa ambulância antes de ser encaminhada para um hospital está a dar que falar, com críticas e passa-culpas. O antigo diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde pediu que o Ministério da Saúde assumisse as responsabilidades, numa declaração que já foi criticada pelo atual CEO do SNS.

No domingo, Fernando Araújo considerou que o Serviço Nacional de Saúde vive um dos momentos mais graves dos últimos 50 anos e pediu ao Ministério da Saúde para assumir as responsabilidades.

O ex-diretor do SNS afirmou que "há problemas de insegurança graves" e que a culpa não é do INEM, nem dos hospitais e, muito menos, dos pacientes: "Agora parece que é moda culpar os próprios utentes".

"Estranho muito que haja quem fale como ex-diretor executivo ao mesmo tempo que é candidato"

Estas declarações levaram o atual diretor-executivo do SNS a acusar Fernando Araújo de criar alarmismos e de querer transformar a saúde num "tema político".

Em entrevista ao Observador, Álvaro Almeida desvalorizou os alertas do ex-diretor, dizendo mesmo que "estranha muito que haja quem fale como ex-diretor executivo ao mesmo tempo que é candidato".

O CEO do SNS garantiu que o fecho de várias urgências no fim de semana de Páscoa foi planeado e sublinhou que, apesar dos encerramentos, os serviços estão a funcionar a responder, não tendo havido a necessidade de recorrer aos privados.

Sobre o plano de verão, assegurou que já está delineado e que entra em vigor a 1 de maio.

Grávida esperou três horas numa ambulância

Uma grávida de 34 semanas, residente na Moita, teve de ficar durante três horas numa ambulância antes de ser reencaminhada para a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. De acordo com a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica, o CODU estava a "tentar perceber para onde poderia transportar esta senhora parturiente e os bombeiros ficaram à espera de uma decisão".

Uma decisão que demorou três horas a ser tomada e que o INEM recusa ter responsabilidade. Num comunicado divulgado no sábado, a Comissão de Trabalhadores do Instituto Nacional de Emergência Médica rejeitou que os seus profissionais sejam o "bode expiatório" de uma SNS "com falhas", sobretudo no encaminhamento de utentes de risco.

No mesmo dia, o diretor-executivo do SNS garantiu que o caso foi corretamente resolvido, mas atribuiu à utente a responsabilidade:

"Terá havido um pormenor que não terá corrido tão bem, mas isso terá sido da responsabilidade da própria pessoa."

ULS diz que grávida recusou transferência

Num comunicado enviado à agência Lusa, a Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho adiantou que a grávida de gémeos tinha sido observada numa consulta de alto risco obstétrico no Hospital do Barreiro e recusou ser transferida para um hospital com cuidados intensivos neonatais.

A grávida alegou a "necessidade de resolver problemas familiares no domicilio" e, perante isso, foi aconselhada a contactar a linha SNS 24 logo que possível, "referindo o risco de grande prematuridade e a necessidade de ser encaminhada para uma unidade hospitalar com cuidados neonatais diferenciados".

O facto é que este "pormenor que não terá corrido tão bem" levou a grávida a ficar três horas à espera numa ambulância.

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