O aumento dos preços das rendas no Algarve está a empurrar muitas famílias para construções ilegais em terrenos rústicos. Só no município de Loulé, a câmara já identificou cerca de 700 habitações ilegais e deverá avançar, em breve, com demolições. Os proprietários estão a organizar-se num movimento que apela à suspensão imediata destes processos.
Vítor Couto, por exemplo, vive há dez anos em quatro contentores instalados num terreno rústico nos arredores de Boliqueime. Antigo coordenador de logística de uma grande empresa de material informático, tinha uma vida confortável em Lisboa, mas tudo mudou aos 50 anos.
Depois de uma tentativa falhada de emigração e sem conseguir emprego em Lisboa, decidiu mudar-se para o Algarve. Os 37 mil euros de uma herança recebida da mãe não eram suficientes para comprar uma casa, e a precariedade laboral tornava impossível pagar uma renda. Antes que o dinheiro acabasse, optou por gastar 10 mil euros num terreno rústico e instalou-se lá.
Histórias como a de Vítor são comuns entre os proprietários das cerca de 700 construções ilegais que surgiram recentemente em Loulé. A autarquia já notificou os residentes e alertou que, de acordo com a lei, as construções terão de ser demolidas. Fátima Coelho, que há oito anos perdeu o apartamento e construiu uma habitação modular num terreno de família, é uma das notificadas.
Numa semana, os moradores conseguiram reunir cerca de 500 assinaturas numa petição que exige a suspensão dos processos de demolição. No entanto, a câmara explica que não pode suspender as ações devido ao cumprimento das leis em vigor.
Os moradores pedem às autoridades uma revisão e atualização dos instrumentos urbanísticos, tendo em conta a atual crise no mercado imobiliário.
A autarquia de Loulé diz que está a investir 30 milhões de euros em habitação e que é o município algarvio com mais fogos em construção, tanto de renda apoiada como de renda acessível. Este investimento destina-se a apoiar famílias carenciadas e de classe média.