O antigo presidente do Hospital Santa Maria admite que a instituição não estava preparada para suportar os custos do tratamento das gémeas luso-brasileiras. Daniel Ferro foi ouvido na tarde desta terça-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito, onde negou ter sido alvo de interferências políticas.
O Conselho de Administração do Hospital Santa Maria, em funções na altura do tratamento das gémeas luso-brasileiras, diz que soube do processo através do diretor clínico, que já admitiu ter recebido uma sinalização da secretaria de estado com vista à marcação de uma consulta.
Daniel Ferro diz que ficou preocupado com os encargos financeiros porque nesse ano de 2019 duas outras crianças já tinham recebido o mesmo tratamento naquele hospital.
"Efetivamente, o hospital não estava preparado para dar execução a uma situação com esta dimensão, porque já o que tinha ocorrido em agosto tinha causado grandes transtornos na tesouraria do hospital, porque passados 60 dias tivemos de pagar quatro milhões de euros que, no fundo, não tínhamos previsto nas nossas necessidades", apontou o antigo administrador daquela unidade hospitalar.
O antigo presidente do Santa Maria não põe em causa a decisão de avançar com o tratamento mais caro do mundo para tratar a atrofia muscular espinhal mas admite que não foram cumpridas as regras de referenciação para o acesso das gémeas ao hospital. Nega ter sido alvo de pressões externas.
Ex-presidente do Santa Maria nega contacto com Lacerda Sales
Diz que nunca falou sobre o caso com o Presidente da República nem com a ministra da Saúde e admite ter contactado o então secretário de Estado, António Lacerda Sales, mas por causa das preocupações financeiras.
Esta sexta-feira é a vez da atual ministra, Ana Paula Martins, ex-presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte, prestar esclarecimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito daquele caso.