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Faltou Saúde, Segurança e a Palestina, mas houve “humanismo”: as reações dos partidos à mensagem de Marcelo

Os partidos políticos reagiram, esta quarta-feira, à tradicional mensagem de ano novo deixada a país pelo Presidente da República. Da esquerda à direita, há críticas, mas também elogios às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa.

Rita Carvalho Pereira

Daniel Pascoal

Para a maioria dos partidos, a mensagem de ano novo do Presidente da República ficou aquém. Temas como a saúde, a segurança ou a reforma do Estado foram apontados como lacunas no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. E se muitos viram nele recados para o Governo, o PSD considera que entre as mensagens do Chefe de Estado e do primeiro-ministro só há “sintonia”.

PS: do "bom senso" ao "humanismo" com migrantes

O líder do PS ouviu os recados do Presidente da República e garante que tem procurado ter o “bom senso” a que Marcelo Rebelo de Sousa apelou.

Pedro Nuno Santos lembrou que foram os socialistas quem permitiu a viabilização do Orçamento do Estado para 2025, naquilo que afirma ter sido uma manifestação de “sentido de Estado e responsabilidade”. Não se compromete, contudo, com uma decisão semelhante no próximo ano. Lembrando que o PS “é oposição”, diz apenas que vai trabalhar para “defender os portugueses”.

O secretário-geral socialista disse partilhar a visão do Chefe de Estado sobre os desafios que o país enfrenta, mas não acredita na capacidade do atual Governo para lhes dar resposta.

“Não temos confiança na capacidade e na competência do atual governo de enfrentar esses desafios”, atirou, afirmando que os problemas só se acentuam, com as medidas aplicadas pelo Executivo de Luís Montenegro.

Por esse motivo promete “combate” ao Governo, mas com uma oposição “responsável e construtiva”.

Pedro Nuno Santos assinalou ainda aquela que considera ter sido uma mensagem de “humanismo”, no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, quando fala da universalidade dos portugueses. O líder socialista considera que é o Presidente da República quis transmitir a ideia de que os problemas não se resolvem promovendo a divisão e o ódio em relação a minorias”.

“É muito importante porquepolíticos à direita,e não apenas no Chega, que têm tido como intenção responsabilizar trabalhadores estrangeiros pelos problemas dos trabalhadores portugueses”, declarou.

PSD: só "sintonia", recados são para oposição

Já o PSD considera que houve “sintonia” entre a mensagem deixada por Luís Montenegro no Natal e a mensagem deixada por Marcelo Rebelo de Sousa no ano novo. Carlos Coelho sustentou que ambos colocaram ênfase na promoção do crescimento económico através de mais investimento, na redução da pobreza e na preocupação com o cenário internacional.

Quanto aos apelos para a cooperação estratégia entre primeiro-ministro e Presidente da República, o social-democrata afirmou que aquilo que o Chefe de Estado fez foi assinalar uma dinâmica já existente. E sobre os pedidos de contas certas e de aproveitamento do Plano de Recuperão e Resiliência, disse que Marcelo Rebelo de Sousa tem “toda a razão”.

Já quando o Presidente da República falou em bom senso e referiu o exemplo do Orçamento do Estado deste ano, aí, o PSD não tem dúvidas: o recado é sobretudo para os partidos da oposição.

Chega e IL: falhou Saúde, Segurança e reforma do Estado

André Ventura reagiu à mensagem de ano novo de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que o discurso ficou “muito aquém do que esperava”.

Para o líder do Chega, faltou uma “palavra de firmeza” do Presidente da República em temas como saúde e segurança.

Falhou na área da saúde, onde muitos têm ficado sem os direitos mais básicos”, afirmou.

Faltou também uma palavra do Presidente sobre o clima de insegurança que se vive em Portugal, uma palavra de crítica ao que não tem sido feito e também uma palavra de clareza para as forças de segurança”, acrescentou.

Para a Iniciativa Liberal, aquilo que faltou no discurso do Presidente da República foi sublinhar a necessidade de uma reforma do Estado.

Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, insiste que o país precisa de crescimento económico e que esse está dependente da reforma do Estado – que, afirma, tem sido ignorada tanto pelo Presidente da República como pelo primeiro-ministro.

“É como se ninguém tivesse a noção de como é essencial que o Estado se possa reformar”, atirou.

Para a IL, as reformas estruturais devem acontecer em áreas como a Saúde e a Educação. E deve também haver poupança noutras áreas do Estado, para gastar naquelas que precisam de mais investimento, como a Defesa, sustentou Rui Rocha.

BE e PCP: Saúde, Educação e Habitação

Quanto ao Bloco de Esquerda, afirma que faltou ao Presidente da República falar de “três áreas com grandes desafios”: saúde, educação e habitação.

“Não se pode falar de futuro e do 25 de Abril sem falar sobre Saúde, sobre Educação e sobre Habitação”, declarou Bruno Maia. “É muito estranho para nós que o PR não tenha enfatizado estas três áreas.”

O bloquista assinalou que as medidas que o Governo implementou este ano vêm aumentar as desigualdades, em vez de reduzi-las, quando aquilo que o Presidente da República pediu, nesta mensagem de ano novo, é mais igualdade.

Bruno Maia nota ainda que, no discurso que fez sobre a situação internacional, Marcelo Rebelo de Sousa esqueceu-se de falar sobre o genocídio na Palestina”.

Já o PCP considera que as orientações que o Governo imprimiu no Orçamento do Estado para este ano não vão ao encontro dos objetivos que o Presidente da República colocou na mensagem de ano novo.

Rui Fernandes assinala que, apesar de Marcelo Rbelo de Sousa defender que o país não quer perder liberdade nem democracia, as políticas do governo vão lesando essa liberdade e essa democracia.

Promovem valores que não cumprem estes princípios”, sublinhou.

CDS e PAN: a pobreza e a colaboração institucional

O CDS, pela voz de Telmo Correia, apoiou a ideia do Presidente da República de mais investimento na componente militar, algo que considera “fundamental num mundo em risco”.

O centrista assinalou ainda que Marcelo Rebelo de Sousa levantou, nesta mensagem de ano novo, o problema das desigualdade e da pobreza – algo que, garantiu, para os democratas-cristãos é uma “preocupação fundamental.

Finalmente, a líder do PAN registou o apelo feito por Marcelo Rebelo de Sousa ao primeiro-ministro para uma maior colaboração institucional.

Inês Sousa Real sublinha que o recado que deve ser ouvido por Luís Montenegro e que essa colaboração não se deve esgotar apenas com a Presidênciada República, mas, sim, ser alargada ao Parlamento.

A porta-voz do PAN considera ainda que Marcelo Rebelo de Sousa deve garantir que a suainfluência enquanto Presidente não se fica por “meras palavras. Lembrando que o Chefe de Estado conduziu o país a eleiçõesquando tinha na oposição a sua cor política, insiste agora que Marcelo Rebelo de Sousa não pode deixar de pressionar um governo de direita.

“O apelo a estabilidade não pode confundir-se com alívio de pressão sobre o Governo, defendeu.


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