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Aprovada moção de censura ao Governo da Madeira

A aprovação da moção de censura apresentada pelo Chega implica a queda, pela primeira vez, de um executivo regional com base neste tipo de iniciativa.

SIC Notícias

Uma moção de censura ao governo madeirense, liderado por Miguel Albuquerque, foi votada favoravelmente no parlamento da região autónoma, esta terça-feira.

Agora é oficial. O XV Governo da Madeira caiu, sete meses após ter sido formado, após a moção de censura apresentado pelo Chega ter sido aprovada no parlamento insular.

O documento recebeu os votos a favor de toda a oposição - PS, JPP, Chega, IL e PAN, que juntos reúnem 26 eleitos, ultrapassando, assim, os 24 necessários à maioria absoluta -, enquanto o PSD e o CDS-PP (que tem um acordo parlamentar com os sociais-democratas) votaram contra.

O atual executivo permanecerá, ainda assim, em funções até à tomada de posse de uma nova equipa.

Em 06 de novembro, dia em que moção foi entregue, o Chega justificou a iniciativa com os processos judiciais que colocaram sob suspeição o presidente do executivo e quatro secretários regionais, que foram constituídos arguidos em casos distintos.

Na declaração final, antes da votação, o líder do grupo parlamentar e da estrutura regional do Chega, Miguel Castro, afirmou que a iniciativa constituiu não apenas um "gesto político", mas sobretudo um "grito de revolta" contra o compadrio, a arrogância e a corrupção que diz estarem instalados na estrutura governamental.

"O governo liderado por Miguel Albuquerque é o exemplo do que não queremos para a Madeira", disse, sublinhando que "a corrupção se tornou uma sombra permanente que paira sobre este executivo".

"Mentiras, chantagem e sabotagem", acusa PS

Já o líder do grupo parlamentar do PS e da estrutura regional do partido, o maior da oposição, acusou o Governo Regional e o seu presidente de "mentiras, chantagem e sabotagem", usando o chumbo do Orçamento da Madeira como instrumento para "tirar dividendos políticos".

Paulo Cafôfo sublinhou que a região "não vai parar" apesar de iniciar o ano de 2025 em regime de duodécimos e, por outro lado, deixou claro que o responsável pela crise política motivada pela moção de censura apresentada pelo Chega não é o PS, mas os elementos do executivo envolvidos em processos judiciais e os partidos que aprovaram o Programa do Governo minoritário após as eleições de 26 de maio.

"É importante tomar uma atitude", afirmou, sublinhando que "o poder está nas mãos das pessoas".

PSD: Moção de censura "não teve em conta" vida dos madeirenses

Por outro lado, o líder parlamentar do PSD, Jaime Filipe Ramos, vincou que uma "moção de censura é um instrumento político que deve ser bem ponderado e não deve ser usado de forma gratuita ou leviana". Na sua perspetiva, a moção hoje discutida "não teve nada disso e não teve em conta o mais importante: a vida dos madeirenses e porto-santenses".

A moção de censura contra o executivo madeirense foi "desenhada e escrita fora da região", a "pensar na estratégia de sobrevivência de um líder nacional", acrescentou, referindo-se ao presidente do Chega, André Ventura.

Jaime Filipe Ramos referiu ainda que este é "um atentado" à autonomia da região e que "as próximas eleições têm de dar a estabilidade de que a Madeira precisa".

"Eu acho que os madeirenses estão cansados de promessas e confusões, de salvadores e delatores, do caos político que prejudica muito a vida de quem está lá fora", disse.

JPP: Governo madeirense enfrenta "crise de credibilidade"

Pelo JPP, o segundo maior partido da oposição, Rafael Nunes afirmou que o Governo Regional enfrenta uma "crise de credibilidade" e de "instabilidade permanente criada por Miguel Albuquerque e pelo seu PSD".

O deputado realçou que o executivo madeirense do PSD está envolto em suspeitas de "crimes graves", entre os quais corrupção, prevaricação e tráfico de influências, e acrescentou que "nenhum cidadão livre e honesto confia o seu futuro na mão de quem perdeu a confiança".

Durante a intervenção do parlamentar do JPP, todos os membros do Governo Regional abandonaram o hemiciclo.

É necessário "respeitar a presunção da inocência", diz CDS

Sara Madalena, do CDS-PP, salientou que a moção de censura apresentada pelo Chega se fundamenta "em questões de justiça e de política nacional", defendendo que o parlamento "não se pode substituir à justiça" e que é necessário "respeitar a presunção da inocência".

O deputado único da IL, Nuno Morna, considerou ser incompreensível e lamentável que Assembleia Legislativa, sendo a "casa da autonomia", se deixe "condicionar" por agendas impostas por Lisboa, alegando também que a moção apresentada pelo Chega ao Governo Regional foi decidida pelo líder nacional do partido, André Ventura.

Nuno Morna descreveu o Chega como "parasita político" e disse que o líder do partido não conhece a autonomia e não tem nada para oferecer à Madeira, mas, por outro lado, também criticou o PS/Madeira, por votar a favor de uma iniciativa que o "incrimina".

Liberais entendem que atual executivo é o "mais trapalhão"

O deputado da IL disse que lhe apetecia sair da sala depois da intervenção, mas decidiu ficar e votar a favor da moção de censura, considerando que o executivo social-democrata minoritário de Albuquerque é o "mais trapalhão, caótico e com mais arguidos" da história da autonomia. Por outro lado, criticou a oposição por não ter ideias para se apresentar como alternativa credível.

PAN destaca falta de condiança política

A deputada única do PAN, Mónica Freitas - que após as eleições regionais de 2023 fez um acordo parlamentar com o PSD, o que não se repetiu após o sufrágio de maio, considerou haver motivos para votar a favor da moção de censura, não por causa da "ação governativa", mas "por uma questão de confiança política", por vários elementos do Governo Regional estarem sob suspeita e serem arguidos em processos judiciais distintos.

A eleita do PAN enunciou vários casos a nível mundial em que este tipo de situação levou os suspeitos a demitirem-se dos cargos.

A reação de Albuquerque

Em declarações aos jornalistas após a aprovação da iniciativa do Chega, Miguel Albuquerque disse que as eleições devem acontecer "o mais rapidamente possível porque não há condições para refrear o desenvolvimento económico da Madeira."

O ainda presidente do executivo insular revelou que o PSD/Madeira não "irá entrar numa guerra fraticida" e que, para já, não há planos para a realização um congresso extraordinário de forma a eleger um novo líder.

"O partido está unido e está mobilizado", sublinhou.

"Queremos um governo transparente"

Miguel Castro, líder parlamentar do Chega/Madeira, assumiu, esta terça-feira, que o partido quer um "governo transparente e de proximidade para com os cidadãos", exigências que, acrescenta, o atual executivo não cumpre.

Questionado se foi André Ventura que exigiu que fosse apresentada a moção de censura, Miguel Castro respondeu que tudo não passa de "narrativa política":

"Não confirmo, de todo, até porque temos uma liderança do grupo parlamentar e somos uma comissão política regional".

PS acusa Albuquerque de "fugir à justiça"

Já Paulo Cafôfo, líder do PS/Madeira, questionou se "Miguel Albuquerque não tem consciência do mal que tem feito aos madeirenses" e referiu que, enquanto o social-democrata não abandonar a liderança do Governo Regional, a Madeira "andará de crise política em crise política".

O socialista entende que "a estabilidade não está garantida com o PSD" e acusa Albuquerque de querer ir a eleições para "fugir à justiça".

Com Lusa

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