Um surto de língua azul está a atingir as ovelhas portuguesas. Luís Miranda, secretário-Geral da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP), alerta para a urgência de vacinar os rebanhos num processo conjunto com Espanha.
A falta de vacinas em Portugal e dificuldades de logística na recolha dos animais mortos são os problemas que mais preocupam os produtores. Luís Miranda explica que o surto atual envolve um novo serotipo do vírus, designado serotipo 3, para o qual ainda não existe uma vacina comercializada em Portugal.
"Este serotipo 3 é uma nova variante, a vacina ainda não existe comercialmente, mas é necessário que os produtores vacinem os rebanhos”, sublinha.
A CAP apela à rapidez no processo de disponibilização das vacinas, que já são aplicadas em Espanha, “os laboratórios fabricaram esta vacina, mas ela ainda não tem todo o processo administrativo para ser comercializada” em Portugal.
Luís Miranda defende por isso que, tal como foi feito durante a pandemia de COVID-19, a compra das vacinas em conjunto permitiria uma redução dos custos e uma campanha de vacinação mais eficiente.
Em Portugal, a situação agrava-se com as dificuldades logísticas na recolha dos animais mortos. A SIRCA, entidade responsável pela recolha, enfrenta uma enorme sobrecarga. “Normalmente, morrem, por exemplo a sul do Tejo, cerca de 400 animais numa época normal. Agora, estamos a falar de dias em que se registam até 3.000 mortes”.
Uma situação que exige um reforço significativo de meios, desde condutores treinados até veículos especiais para o transporte seguro dos animais mortos.
A CAP estima que vacinar todos os 2,5 milhões de ovinos no país custaria 7,5 milhões de euros, enquanto o Governo anunciou apenas 1 milhão de euros em apoios.
Apesar da gravidade do surto, o Secretário-Geral do CAP garante que não há riscos para o consumo de carne, leite ou queijo proveniente dos animais infetados.
"Termino com um apelo a todos os produtores para fazerem a notificação da doença. Eu percebo que a prioridade seja apoiar os animais que estão doentes, mas agora é parte, digamos, administrativa e burocrática, notificar essa doença. Para que as estatísticas portuguesas possam ter os números reais da doença e Portugal possa pedir à União Europeia uma situação de crise sanitária que, neste momento, face aos registos que existem por morte de animais com língua azul, ainda não é possível".