Depois de se reunir com os autarcas, o Governo reúne-se esta terça-feira com várias associações representativas das comunidades da área da Grande Lisboa "para dialogar", encontro que surge na sequência dos incidentes que se seguiram à morte de Odair Moniz. António Brito Guterres diz que será difícil que deste encontro surja uma resposta. “Acho que tem havido pouco diálogo em geral nos últimos anos, entre estas associações e os vários governos e, portanto, vai ser preciso mais do que uma reunião”, considera o assistente social e investigador de Estudos Urbanos, em entrevista na SIC Notícias.
“É benéfico que haja diálogo, mas a própria lista levantou várias dúvidas porque há entidades de base mais nacional, misturada com uma outra de base local. Quando digo base local é destes territórios (…) Do Zambujal está uma associação, mas não estão outras. Do concelho de Sintra não está nenhuma, portanto não se percebe bem qual é o critério”, aponta o investigador.
Questionado sobre se faz sentido neste primeiro contacto, juntar na mesma mesa os representantes das comunidades e também a polícia, António Brito Guterres defende que é bom, mas não é suficiente, e sublinha que é preciso investir em políticas públicas para travar a desigualdade nos bairros sociais.
"Vamos ter associações muito experimentadas, o Governo devia mesmo ouvi-las"
O assistente social explica que nestes territórios as lacunas são enormes e é preciso começar por aí.
"Quando eu tenho uma escola de um território destes, onde 50% dos alunos ficam retidos no 6º ano, evidentemente que algo não está bem, ou seja, a política pública educação, não está a funcionar, e o que é preciso fazer mais? Se calhar, porque as mães estão ausentes o dia todo de trabalho, é preciso ter esquemas de apoio ou na escola ou no bairro.
Quando nós discutimos de forma gravosa os jardins para os cães na cidade, aqui nem há parques para as crianças, estamos a falar de coisas mais básicas, recolha de lixo diária, há coisas básicas que não existem nestes territórios.
Estes agentes que nós estamos a falar das associações estão a lutar para chegar a um patamar de igualdade que os outros, para depois poderem evoluir," realça António Brito Guterres.
O investigador refere ainda que este debate deveria ser feito em todo o país e deixa um apelo: “Acho que aqui vamos ter associações muito experimentadas, acho que o Governo devia mesmo ouvi-las porque elas têm todas propostas concretas e é essencial encetar esse diálogo e perceber que quando se vai investir nestes territórios, esse investimento tem retorno.”
"Quando falamos dos vários indicadores sociais que às vezes aparecem nos telejornais, as pessoas que são pobres, as pessoas estão fora da escola, etc, estão quase todas concentradas neste territórios. Se nós resolvermos esses problemas neste território, resolvemos esses problemas de forma transversal no país", conclui António Brito Guterres.