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O que esconde a (falta de) saúde mental? Os segredos para um cérebro saudável

Na semana em que se assinala o Dia Internacional da SaúdeMental, a SIC foi saber como prevenir um dos maiores problemas de saúde do século. Em Portugal, 20% da população poderá sofrer de uma doença mental.

Ana Peneda Moreira

João Massapina

Jorge Costa

Van Gogh fez 35 autorretratos. Olhar para um quadro do pintor fá-lo-á ativar várias zonas do cérebro. Mas desengane-se quem pensa que acontece apenas porque está perante uma obra de arte de um dos mais conhecidos artistas do mundo. O efeito, no cérebro, surge da pura contemplação.

Mas o que torna o mundo do cérebro incrivelmente complexo é a certeza de que, perante a mesma imagem, cada cérebro reage de forma completamente diferente.

“Uma das coisas que nós percebemos, através da ressonância magnética, é a variabilidade individual”, aponta a neurocientista Luísa Lopes.

Uma em cada oito pessoas no mundo vive com uma doença mental.

Em Portugal, a incidência é ainda maior - a segundo mais alta da Europa e a maior da União Europeia: uma em cada cinco pessoas tem depressão, demência ou uma doença neurodegenerativa.

Os "milagres" do dia a dia

Os cientistas continuam em busca do medicamento milagroso para os problemas de saúde mental, mas a evidência aponta para o milagre das rotinas do dia a dia.

“Há situações e hábitos de vida que nos ajudam a melhorar a saúde cerebral”, assegura Luísa Lopes.

Nos anos 80 e 90, as televisões indicavam a hora de ir para a cama. A tradição caiu em desuso, mas está provado que quem dorme bem tem menos risco de saúde mental.

A importância do amor e da amizade

Pelo contrário, o isolamento aumenta o risco de demência. Já o amor e a amizade são essenciais na cura e na prevenção.

“O facto de estabelecermos relações sociais melhora o humor, diminui a sensação de isolamento e (...) a formação de novos neurónios é estimulada pelas relações sociais”, explica a neurocientista.

Tânia Gaspar, psicóloga, revela que, durante um estudo, quando pessoas com mais de 80 anos foram questionadas sobre aquilo que mais as marcou durante a vida, as relações estabelecidas ao longo da vida foram a resposta dada.

“Isto diz tudo sobre o papel do amor”, resume.

Alimentação e exercício ajudam

São também cada vez mais os estudos que apontam os intestinos como o segundo cérebro, com base na certeza de que a alimentação influencia a saúde mental.

O exercício físico é o quarto pilar da prevenção: corpo ativo, cérebro musculado.

Sinais de alerta

Quanto aos sinais de alerta para a saúde mental, a psicóloga Tânia Gaspar responde que o mais comum está relacionado com o sono e a dificuldade em dormir.

Outro sinal a que se deve estar atento são as alterações de humor.

Há ainda que ter cuidado com sintomas como a falta de autoestima ou a existência de problemas de memória e dificuldade de concentração.

O papel do trabalho

Nessa fase, o cérebro já se “sente aprisionado" - pelos problemas em casa ou no trabalho, onde passamos metade da vida e que é cade vez mais responsável por um stress que adoece a mente.

“Desde 2019, temos vindo a te rum aumento da percentagem de pessoas com sintomas de burnout”, admite Tânia Gaspar.

A psicóloga explica que o ordenado, por exemplo, é um fator que gere sentimento de justiça ou injustiça no trabalho.

Mas a partir do momento em que paga as contas, o bem-estar dos trabalhadores pode ser potenciado por uma simples cultura de empresa, que envolve os trabalhadores no processo de decisão.

De forma simbólica, associamos as emoções ao coração, mas é o cérebro que processa os sentimentos.

A neurociência moderna acredita que pensamos porque temos consciência das emoções - das mais básicas, como a fome, até às elementares, como o amor.

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