O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP) “não ficou surpreendido” com a notícia da fuga de cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, este sábado. Frederico Morais, presidente do SNCGP, lembra que tem vindo a alertar para a falta de recursos humanos nas prisões e diz que “Estado português fica mal na fotografia”.
Em declarações à SIC, Frederico Morais explica que a prisão de Vale dos Judeus costumava ter quatro torres de vigilância que foram demolidas.
“Estamos a falar de um estabelecimento prisional que era um dos mais seguros que havia no país até 2017. Na altura, o governo decidiu que iria demolir as torres de videovigilância onde estavam um guarda permanente a vigiar o exterior e o interior do estabelecimento prisional porque não tinham meios humanos para aplicar algumas medidas que o governo queria, nomeadamente uma escala de trabalho. Essa medida foi crucial a nível de segurança daquele estabelecimento prisional.”
Os reclusos evadidos são dois portugueses - Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro - “considerado ‘o terror do Algarve’” - e três estrangeiros, incluindo “um dos mais procurados da Argentina”.
“O Estado português fica mal na fotografia porque o Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional tem vindo a alertar ao longo destes anos para a falha enorme de humana que existe nos estabelecimentos prisionais (...) O desinvestimento, o abandono total do Governo aos serviços prisionais e às cadeias portuguesas deu nisto hoje.”
Frederico Morais acredita que nada disto teria acontecido se as quatro torres de vigilância ainda estivessem a ser usadas. O estabelecimento tem um muro com seis metros de altura e usa um sistema designado “pescoço de cavalo” que terá dificultado a fuga, mas não é suficiente.
Os reclusos que fugiram “tiveram de fazer um sacrifício enorme para mandar uma corda, conseguir trepar e depois ter a escada do lado de fora”, aponta. No entanto, dão-se “ao luxo de fugir, conforme as imagens mostram, e ficar a olhar para o muro. Nem tentam fugir imediatamente para fora dali” porque “sabiam que tinham tempo para fazer aquilo”.
São raros os estabelecimentos prisionais com torres de vigilância com guardas no ativo, em vez disso apostou-se nas câmaras de videovigilância, mas não há equipas de reação, diz o presidente do SNCGP.
“Todas as cadeias estão iguais. É lamentável que os reclusos estejam todos, em convívio, num pátio em que não há um único guarda para vigiar.”