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O caso das gémeas explicado em 2:30 minutos: da "cunha" do filho de Marcelo ao corte de relações com o pai

A investigação só começou este ano, mas o caso teve início em 2019. O filho do Presidente da República é um dos investigados por alegada interferência no acesso ao tratamento. O Presidente viu-se assim envolvido no caso e terá, entretanto, cortado relações com o filho.

João Maldonado

Gonçalo de Freitas

Em sete meses, Marcelo Rebelo de Sousa já teve que falar um sem número de vezes sobre o caso das gémeas. Ao início, para dizer que não se recordava do caso, mesmo depois de ter sido divulgado pela TVI um vídeo em que a mãe das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinal assumia ter existido uma cunha para o tratamento das filhas em Portugal, pelo facto de conhecer a nora do Presidente da República.

Em dezembro do ano passado, Marcelo lá conseguiu reunir informação.

"Apurou-se que o Dr. Nuno Rebelo de Sousa, meu filho, me enviou um e-mail em que dizia que um grupo de amigos da família das duas crianças gémeas se tinha reunido e estava a tentar que elas fossem tratadas em Portugal. Eu despachei para o chefe da Casa Civil. O Chefe da Casa Civil enviou para a Dra. Maria João Ruela, que contactou o Hospital Santa Maria, e na sequência disso deu a seguinte resposta ao Dr. Nuno Rebelo de Sousa: o processo foi recebido, sendo que a capacidade de resposta é muito limitada e depende inteiramente de decisões médicas do hospital e do Infarmed", disse, na altura, o Presidente da República.

No centro da história, um caso que começou há quase 5 anos, quando os pais das duas crianças começaram as tentativas para tratar as filhas com um medicamento que, para ambas, custaria 4 milhões de euros. Acabariam por ter acesso ao tratamento no Hospital Santa Maria.

A questão, que ainda se investiga, é saber como foi conseguida a primeira consulta que abriu as portas do Serviço Nacional de Saúde. António Lacerda Sales, na altura secretário de Estado, assumiu que o filho do Presidente o procurou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações em dezembro de 2023, Nuno Rebelo de Sousa procurou o secretário de Estado "porque não conseguiu chegar onde queria por outro caminho, que era através do Presidente e da Presidência da República. Por isso, é que foi a seguir tentar outra coisa, porque não tinha obtido aquilo que queria."

O Presidente da República classificou a situação pessoal que como muito desagradável. O corte de relações entre pai e filho foi anunciado num jantar com jornalistas estrangeiros a viver em Portugal, em abril desta ano.

"É imperdoável porque se sabe que eu tenho um cargo público e político e, portanto, pago por isso. Ele vai ser responsabilizado? Vai ou não vai? Se responde, não responde... Não sei nem me interessa", constatou.

Nuno Rebelo de Sousa vive há mais de dez anos no Brasil. Nunca disse em público uma palavra sobre as suspeitas.

A Polícia Judiciária realizou esta quinta-feira buscas no Ministério da Saúde e no Hospital Santa Maria, em Lisboa, no âmbito do caso das gémeas luso-brasileiras. Ao que a SIC apurou, o antigo secretário de Estado Lacerda Sales foi constituído arguido no início da semana.

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