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Caso EDP: o dia em que, pela 1.ª vez na história, um ex-governante foi condenado por corrupção

A Justiça deu como provado um “pacto corruptivo” entre o antigo ministro da Economia Manuel Pinho e o antigo presidente do grupo Espírito Santo Ricardo Salgado. O acórdão do caso EDP, com 700 páginas, foi lido esta quinta-feira no Campus de Justiça.

Ana Lemos

Diogo Torres

João Maldonado

Oito meses e mais de 100 testemunhas depois, foi conhecida a decisão do coletivo de juízes no caso EDP. O Tribunal não ficou convencido com a versão das defesas e não teve dúvidas de que ficou “provado um pacto corruptivo” entre Manuel Pinho e Ricardo Salgado.

O coletivo de juízes, presidido pela magistrada Ana Paula Rosa, do Juízo Central Criminal de Lisboa, entende que enquanto foi ministro da Economia, entre 2005 e 2009, Manuel Pinho “esteve permanentemente disponível para promover e favorecer interesses do Grupo Espírito Santo" a troco de dinheiro que era depois colocado numa conta offshore, no Panamá, criada por Manuel Pinho e a mulher Alexandra Pinho.

No total, 4 milhões 943 mil euros foram recebidos ilegalmente, incluindo um pagamento de 500 mil euros feito de uma só vez e mesadas de 15 mil euros enquanto era ministro.

"Sabia ainda o arguido Manuel Pinho que ao aceitar as vantagens pecuniárias que não lhe eram devidas mercadejava com o cargo público, pondo em causa a confiança pública", afirmou a magistrada, realçando que Ricardo Salgado e Manuel Pinho "sabiam que lesavam a imagem da República e atentavam contra a confiança do cidadão" com as suas condutas.

Para o coletivo de juízes, “Manuel Pinho atuou sempre na persecução dos interesses de Ricardo Salgado e não dos interesses públicos”, “lesou gravemente a imagem da República, pondo em causa “a confiança no Estado”.

A juíza-presidente Ana Paula Rosa teceu duras críticas à conduta de Manuel Pinho e considerou "inverosímeis, incoerentes e ilógicas" as declarações que proferiu em tribunal para explicar as situações que lhe eram imputadas pela acusação do Ministério Público (MP).

"Estas justificações aparecem-nos completamente ilógicas, apenas enquadráveis numa realidade virtual, sem correspondência com a realidade da vida. Analisando as declarações e a prova produzida, o arguido procurou normalizar e branquear as verbas recebidas", apontou.

Num acórdão com 700 páginas, o Tribunal deu como provados “1030 factos”.

Condenações pesadas vs vitória do MP

Terminada a leitura da sentença, Manuel Pinho e Ricardo Salgado ficaram a saber que foram condenados a penas de 10 anos e de seis anos e três meses de prisão, respetivamente. Penas que, sublinhe-se, são superiores às que o MP pediu nas alegações finais.

Já a mulher do ex-governante, Alexandra Pinho, foi condenada a uma pena de quatro anos e oito meses, suspensa na execução.

As penas resultam do cúmulo jurídico das penas aplicadas nas condenações pelos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento.

Manuel Pinho torna-se, assim, o primeiro ex-governante condenado por corrupção na história da justiça em Portugal. Em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, estava acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal.

A mulher Alexandra Pinho respondia por branqueamento e fraude fiscal - em coautoria material com o marido -, enquanto ao ex-banqueiro Ricardo Salgado eram imputados os crimes de corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento.

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