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PSD: "O Chega não ganhou as eleições e não tem direito a governar"

António Leitão Amaro, do PSD, e Pedro Pinto, do Chega, estiveram frente a frente para debater o futuro da governação do país. Chega continua a pedir, PSD continua a bater o pé. Mas fica no ar o que fará o partido de André Ventura quando for necessário aprovar medidas no Parlamento.

Maria Madalena Freire

Na SIC Notícias esta terça-feira esteve presente António Leitão Amaro do PSD e Pedro Pinto do Chega. Os dois deputados eleitos no último domingo discutiram sobre um potencial acordo de governação que continua a ser pedido pelo Chega e negado acerrimamente pelo PSD. É incerto se o próximo Governo irá querer fazer um orçamento retificativo.

A Aliança Democrática (AD) foi o partido escolhido pelos portugueses no domingo passado para governar Portugal, mas com uma margem mínima de diferença para o Partido Socialista (PS).

Já o Chega, teve um crescimento claro que, nos últimos dias, tem levado o partido a pressionar o PSD para entrar na governação.

No entanto, António Leitão Amaro explica: AD governa porque ganhou, com maioria relativa.

“A AD: PSD, CDS, governam com a maioria relativa, governam porque ganharam, o Chega é mais um partido como o Bloco de Esquerda, o PCP, que estará no Parlamento com a legitimidade do voto popular e fará o seu caminho. O PSD e o seu Governo, governarão dialogando medida a medida, lei a lei parlamentar com os partidos com assento parlamentar”, explicou o agora eleito deputado social-democrata.

António Leitão Amaro vincou, ainda, o mote que tem sido repetido por Luís Montenegro: “Não é não, não devíamos perder mais um segundo de televisão sobre esse assunto”.

O futuro deputado ainda apontou que é difícil perceber o que o Chega quer tendo em conta a mudança de opinião nos últimos tempos, relembrando que há seis meses o líder do Chega disse que no início de 2024 ia ultrapassar o PSD, e “não aconteceu”, depois disse que apresentava uma moção de rejeição, “já não apresenta”, queria estar no Governo, “não vai acontecer”; o PSD era “uma prostituta política” e agora “quer estar em aliança”.

“Nós queremos unir o país com as diferenças que temos e respeito por todos os partido e diálogo base em todas as medidas”, disse.

Pedro Pinto, também deputado recém-eleito pelo Chega, confrontou, mais uma vez, o PSD com o pedido que tem atormentado os sociais-democratas.

“Temos de ver os resultados eleitorais. O PSD ficou com 77 deputados e o Chega tem 48 deputados, por enquanto. E o CDS tem apenas 2 deputados. A vitória do PSD é muito curta e os portugueses disseram no domingo uma coisa simples: tem de haver uma convergência entre PSD e Chega”, destacou Pedro Pinto.

Para o deputado do Chega, “a AD com tantos deputados como o PS não poderá governar com a hipótese que temos na mão de dar estabilidade ao país”. No entanto, neste momento, ainda sem os votos do estrangeiro contados, a AD conta com 77 deputados, tal como o PS, mas com mais deputados eleitos pelo PSD-CDS na Madeira.

“Se o PSD se sentar connosco temos muitos pontos de convergência. Existe uma série de coisas que temos em comum e a pergunta que se faz é: porque é que não se sentam à mesa e conversam?”, interrogou Pedro Pinto.

Para além disso, o futuro deputado do partido de extrema-direita ainda relembrou que Gonçalo da Câmara Pereira disse que “tem de haver um acordo com o Chega”.

“Ninguém lá em casa percebe porque é que o PSD está a desperdiçar uma oportunidade única de governar em estabilidade quatro anos. Existe uma grande parte do eleitorado que não queria nada com o PSD, achamos o contrário, o Chega é um partido responsável. O PSD não está a ter responsável política que devia ter”, acusou Pedro Pinto.

Mas para Leitão Amaro, a solução para a governação de maioria relativa é simples: dialogar com todos os partidos

“Quando era deputado fiz várias propostas que foram conversadas com vários partidos do espetro político. Todos os partidos têm legitimidade democrática, nessa medida, naquele Parlamento, todos os partidos conversam. Temos de acabar com o clima de divisão no país, desde logo na Democracia que é diferente de dizer que há sintonia suficiente para fazer parte de uma base de Governo. Não há, não vale a pena perder tempo”repetiu o social-democrata.

Mas Pedro Pinto respondeu que o Chega não pode agora afirmar que irá “aprovar tudo sem saber qual será o Governo em funções e que pessoas o compõem”

“Não podemos mandar fora os votos de um milhão de pessoas e votar a favor do PSD e CDS. Temos uma oportunidade única para termos maioria de direita em Portugal e correr com o socialismo em Portugal. Este Governo se não cair agora, cairá no ano que vem, cairá daqui a dois anos”, calculou o deputado do Chega.

Mas, nesta parte da conversa, em que o deputado fez "futurologia", Leitão Amaro aproveitou e perguntou: “mas o Governo para ser mandado abaixo precisa do voto do Chega, vai votar ao lado da esquerda?”.

A pergunta não foi respondida.

Mas em termos de Orçamento do Estado, o Chega é claro.

“Não nos peçam para assumir votar a favor um orçamento onde não fomos vistos nem achados, onde não houve conversa entre Chega e PSD. Alguns deputados do PSD já tiveram conversas connosco a dizer por nós havia acordo entre PSD e Chega”, revelou Pedro Pinto.

Mas o deputado do PSD não deixou que o deputado do Chega continuasse a afirmar que havia das conversas de bastidores e promessas, tal como o próprio André Ventura disse que foram feitas por vozes ativas no partido Social-Democrata.

“Vamos largar a criancice da campanha eleitoral. Os portugueses querem saber se vão ter mandato de mudança, porque escolheram a mudança. O PS tinha maioria absoluta e tiveram queda brutal. Cada um com o seu papel diferente e a sua legitimidade pode contribuir com os seus papéis para a mudança”, repetiu Leitão Amaro.

A respeito de um Orçamento Retificativo o PSD não diz nem não, nem sim, tendo em conta que será uma decisão do futuro Governo que terá de apurar tendo em conta os números da receita existente e autorizações de despesa.

No entanto, existem medidas “que são de implementação imediata, como as da Saúde”, referiu Leitão Amaro.

“Vocês vão governar com um orçamento do Partido Socialista que foi chumbado pelo PSD. Se houver necessidade de retificativo temos de ver se há conversas connosco ou não. Não vamos aprovar nenhum orçamento do PSD que seja de cruz”, vincou o futuro deputado Pedro Pinto.

O membro do Chega continuou, também a insistir, que quem não queria diálogo era o Partido Social Democrata e que, com essa atitude, estava a “espezinha e humilhar” um milhão de portugueses que votaram no Chega.

“Os seus votos não lhe deram direito a governar, o Chega não ganhou as eleições e não tem direito a governar. Tiveram um bom resultado indiscutível, foram escolhidos para governar? Não. Não vão estar no Governo”, rematou o deputado do PSD.

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