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Aliança Democrática 2.0: reescrever o passado e "eclipsar" o presente

Entre o “desaparecimento” de Freitas do Amaral e a ocultação de Gonçalo da Câmara Pereira, a Aliança Democrática dos tempos modernos tem tido algumas “imprecisões” e contradições, até agora.

FERNANDO VELUDO

Maria Madalena Freire

Após 44 anos, a Aliança Democrática volta a ser uma alternativa no boletim de voto de umas eleições legislativas, no entanto não é nos mesmos moldes. Apesar da circunstância parecer idêntica - como a AD atual transparece - os líderes e as suas afinidades são diferentes. O regresso ao passado nem sempre é feliz e o presente tem características diferentes. O que tem sido a AD 2.0, até agora?

A Aliança Democrática 2.0 que surge agora liderada por Luís Montenegro (PSD), Nuno Melo (CDS) e Gonçalo da Câmara Pereira (Partido Popular Monárquico) já assinou o acordo e apresentou-se ao país como a alternativa necessária aos últimos oito anos de governação socialista.

No entanto, desde aí que esta candidatura tem sido assombrada por "imprecisões" e, até, esmiuçada na utilização de certas imagens e figuras - ou da não utilização delas.

Diogo ou Adelino?

No mesmo dia da sua apresentação, a AD lançou um vídeo da sua candidatura às eleições de 10 de março que deixou algumas dúvidas, seja por esquecimento de uma figura marcante, seja pela remoção propositada dessa personagem.

Trata-se de Diogo Freitas do Amaral, líder do CDS em 1980, e quem guiava o partido na AD original. No vídeo publicado dia 7 de janeiro, a AD 2.0 faz comparações entre os tempos imprecisos e economicamente duros para os portugueses nos anos 80 que se verificam também hoje em dia.

Nessa ligação ao passado, ao relembrar quem é que compunha a AD do século passado, o vídeo "esquece" Freitas do Amaral e coloca, ao invés, Adelino Amaro da Costa, também uma dos pioneiros da democracia-cristã portuguesa.

Durante uma entrevista para a SIC, Hugo Soares do PSD até "corrige" a jornalista quando questiona sobre a química de Freitas do Amaral com Sá Carneiro na AD dos anos 80. Nisto, Soares interrompe e diz "Era Adelino Amaro da Costa".

Ora, dias mais tarde, Hugo Soares é questionado pelo Público sobre este "erro" e o próprio admite que foi uma "imprecisão", uma vez que no dia do "atentado" quem estava com Sá Carneiro seria Amaro da Costa.

Toda esta situação entoou alguns alarmes, tendo em conta que Freitas do Amaral pode ser visto com outros olhos, nos dias de hoje, por se ter desfiliado do CDS e ter integrado o Governo de José Sócrates em 2005.

No entanto, o vídeo da candidatura já foi "corrigido" com a integração da figura de Freitas do Amaral seguida de Amaro da Costa.

Os "portugueses" do vídeo

Tal como um utilizador da rede social X (antigo Twitter) identificou, o uso de imagens "modernas" no vídeo da candidatura da AD acaba por não ser representativo dos portugueses, ao mesmo tempo que se refere aos mesmos.

Um desses exemplos é quando a candidatura diz que quer ir ao encontro "dos anseios de milhares de portugueses" enquanto aparece uma jovem mulher espanhola que marcou presença num vídeo de Andrii Nekrasov que visava apoio à Ucrânia.

Outros exemplos são a utilização de imagens de stock generalizadas, nas quais nenhuma das figuras são portuguesas.

Rei "eclipse"

Um dos momentos que marca esta AD 2.0 é também ter sido anunciada, em primeira instância, apenas com acordo entre PSD e CDS, o que despoletou várias críticas do Partido Popular Monárquico.

O PPM esclareceu, em comunicado, que foi convidado para integrar a coligação com o PSD e o CDS, mas em condições que considerou "de caráter humilhante".

Antes disto, o líder do partido monárquico já tinha criticado em declarações ao Público os líderes do PSD e CDS descrevendo-os como “fracos” e sem visão.

São desconhecidas as atuais condições que fizeram o partido repensar e integrar a AD atual, mas a verdade é que Gonçalo da Câmara Pereira não aparece no vídeo da candidatura, tendo apenas presente Luís Montenegro e Nuno Melo.

Os reis já não são "sóis" no espaço democrático e, após os 260 votos nas últimas legislativas de 2022, não se poderia esperar mais do que um "eclipse" da presença do PPM neste acordo.

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