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Dentistas: Pedro Nuno promete reforço do programa de saúde oral no SNS

Seis milhões de pessoas têm falta de dentes, 10% dos portugueses acima dos 65 anos nunca foram ao dentista. O bastonário dos dentistas saudou o reforço do compromisso na criação da carreira de medicina dentária no SNS.

João Tiago

Luís Silva

Lusa

Neste dias de pré-campanha, volta a surgir a promessa de criar um programa de saúde oral no Serviço Nacional de Saúde. O país tem dos piores indicadores. Seis milhões de pessoas têm falta de dentes, 10% dos portugueses acima dos 65 anos nunca foram ao dentista. Apenas 2% da população acede a uma consulta de medicina dentária através do SNS. Ainda assim, no Algarve há um exemplo animador.

A promessa de criar um programa de saúde oral no Serviço Nacional de Saúde não é de agora.

Em 2016, o Governo já tinha lançado um projeto para levar a centros de saúde de todo o país consultas de medicina dentária, chegando já a meia centena de norte a sul. O Algarve é a região mais avançada e até já integrou dentistas tarefeiros nos quadros na nova unidade local de saúde.

São quase 20 anos de consultas no Centro de Saúde de Faro. Um dentista foi pioneiro, ainda antes das consultas pioneiras dentro do Serviço Nacional de Saúde.

A experiência de Paulo Carvalho ganhou novos adeptos quando em 2018 foi o próprio Governo a querer mais dentistas nos cuidados de saúde primários do SNS.

Sete anos depois desse programa lançado, com pompa e circunstância, chegou a meia centena de centros de saúde.

O Algarve destaca-se. Criou 14 gabinetes de medicina oral na região.

É a única com os agrupamentos de centros de saúde dotados de equipamentos de radiologia para realizar logo ali ortopantomografias

A exigência é antiga e não ter sido ainda implementada explica em parte a lentidão com que o programa se expande no resto do país.

Paulo Carvalho foi tarefeiro durante 15 anos.

Os demais dentistas nos centros de saúde do Algarve. Eram contratados através de uma empresa.

A nova Unidade Local de Saúde quis integra-los nos quadros, no início do ano. Um não aceitou.

A Unidade Local de Saúde quer ser modelo nacional de integração da saúde oral e, por isso, constrói no hospital de Faro uma sala de pequena cirurgia,
acompanhada de mais uma cadeira de estomatologia.

Ordem saúda reforço

O bastonário dos dentistas saudou o reforço do compromisso na criação da carreira de medicina dentária no SNS, anunciado pelo novo secretário-geral do PS, defendendo a sua necessidade para garantir os cuidados de saúde oral no serviço público.

O secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, destacou, no domingo, o reforço da saúde oral no Serviço Nacional de Saúde (SNS) como uma das prioridades na área da Saúde, caso vença as eleições legislativas a 10 de março, para superar "os maus resultados" apresentados sistematicamente nesta área.

"Sabemos bem que só conseguiremos superar esses maus resultados se a medicina dentária passar a ser uma realidade consistente no SNS. Iremos promover um programa de saúde oral que, de forma gradual e progressiva, garanta cuidados de saúde oral aos portugueses no SNS e, nesse esforço, será fundamental a criação de uma carreira de medicina dentária no SNS", acentuou, no discurso de encerramento do 24º Congresso Nacional do PS.

Em declarações à agência Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMS), Miguel Pavão, afirmou que as declarações de Pedro Nuno Santos aumentam o "nível de compromisso" que já existia nos programas eleitorais do PS para as eleições legislativas e autárquicas.

"Já no tempo de António Costa, em 2016, assumiu-se sempre a saúde oral como uma vertente de investimento, que ficou depois aquém daquilo que foram algumas das promessas, nomeadamente, os 280 médicos dentistas que depois nunca se vieram verificar", afirmou.

Reconhecendo que "houve uma pandemia pelo meio", o bastonário disse que "o nível de compromisso tem vindo a aumentar".Recordou que o atual Governo, que está em gestão até à tomada de posse do próximo executivo, já tinha prevista a criação da carreira, que "ficou comprometida" com a queda do Governo.

"Por isso, eu diria que é com muito bons olhos que vemos agora um reforçar desse compromisso por parte do novo secretário-geral do Partido Socialista", salientou o bastonário, realçando as afirmações de Pedro Nuno Santos em que diz que pretende de uma forma gradual e progressiva garantir os cuidados de saúde oral e, para isso, a carreira é um ponto basilar.

Miguel Pavão acrescentou que "qualquer pessoa que esteja na tutela da saúde tem noção de que, sem a carreira, não se consegue viabilizar esta garantia dos cuidados de saúde oral no SNS".

Destacou, por outro lado, o facto de Pedro Nuno Santos ter falado de "um programa consistente", esperando que se reverta em mais investimento para a saúde oral.

Para Miguel Pavão, "não se pode continuar a ter uma proposta ambiciosa que depois, no Orçamento do Estado, tem apenas 20 milhões de euros de investimento".

Numa altura em que se vai entrar em campanha eleitoral para as eleições legislativas, o bastonário defendeu ser importante perceber "se este desafio que Pedro Nuno Santos posiciona como prioritário" também vai ser elencado por outros partidos políticos.

"A Ordem dos Médicos Dentistas gostaria de conhecer as ideias, as ambições para a saúde oral, de outros partidos, ainda que saibamos que existem partidos que veem diferentes modelos, se calhar mais assentes no privado, se calhar mais assentes no social, não tanto no público, mas será muito importante comprometer também os outros partidos políticos nesta matéria", defendeu.

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