Uma perícia do Instituto de Medicina Legal confirma que Ricardo Salgado sofre de doença de Alzheimer. O relatório refere que o diagnóstico não impede que o antigo banqueiro seja chamado a prestar depoimento em tribunal, mas os especialistas avisam que a memória e a linguagem estão comprometidas.
O relatório é baseado em exames clínicos, mas sobretudo nas inúmeras provas e observação direta, que é feita por três peritos – um psiquiatra forense, uma neurologista e um neuropsicólogo, nomeados pelo Instituto de Medicina Legal.
Os peritas notaram que o antigo banqueiro se apresentou “à diligência entrando no gabinete lentamente com a ajuda da esposa, marcha titubeante e lenta com passos curtos, algum alheamento contrastando com aparente à vontade".
A mulher de Ricardo Salgado disse aos peritos que o marido deixou de conduzir há dois anos, que já se perdeu na rua sem conseguir informar onde estava e, por isso, deixou de sair de casa sozinho há um ano. Deixou também de tomar conta do dinheiro e das contas da casa.
Quando lhe perguntaram sobre as amizades, Ricardo Salgado respondeu: "Tive um período em que tive muitos amigos... Mas pelo andar da carruagem os amigos vão sendo reduzidos... Julgo que não têm tanto interesse em ver-me atendendo à situação em que estou... E para mim também não é muito agradável."
O antigo banqueiro disse ainda que não fala com ninguém sobre as questões do tribunal, apenas com os advogados. A mulher diz que já nem isso acontece.
Os peritos identificaram desorientação no espaço e no tempo, tendo errado na própria idade. No entanto, conseguiu responder com exatidão a diferentes questões, como, por exemplo, o que é uma sociedade, uma sentença, um plágio ou um testamento: "É um contrato jurídico que se destina a atribuir determinados valores pelos diferentes membros de uma família."
Os peritos confirmam que Salgado tem uma demência moderada causada por doença de Alzheimer, tal como a defesa tem vindo a alegar em vários processos.
O relatório refere que o diagnóstico não impossibilita nem é impeditivo da comparência em tribunal para prestar declarações. Os peritos deixam claro que a memória, atenção, velocidade de processamento, linguagem e discurso do antigo banqueiro estão diminuídos, logo, as declarações estão comprometidas.
"Não se pode garantir que pormenores de natureza espacial, temporal e de conteúdos sejam relatados de forma rigorosa, já que poderá efetivamente recordar, ou não recordar”, escrevem no relatório
Os peritos entendem que só o tribunal pode ajuizar se, nestas condições, vê utilidade em sentar Ricardo Salgado no banco dos réus. O relatório foi feito a pedido de um processo cível do tribunal de cascais, mas há outra perícia, ainda não concluída, ordenada pelo coletivo que está a julgar Salgado e Manuel Pinho por crimes de corrupção.