A família das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital Santa Maria, com um dos medicamentos mais caros do mundo, nega ter pedido qualquer tratamento de exceção através do Presidente da República. Garante que, depois de diagnosticada a doença rara às filhas, iniciou o processo de forma legal no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e diz estar a ser vítima de difamação e xenofobia.
O diagnóstico de atrofia muscular às duas filhas gémeas fez com que a mãe, que é também filha de um português e há 15 anos também cidadã portuguesa, iniciar nas semanas seguintes os primeiros pedidos de ajuda ao hospital Santa Maria e a outros hospitais.
Um dos médicos do Santa Maria respondeu, de forma não oficial, a 14 de outubro ao pedido da mãe, confirmando já ter levado o assunto ao Conselho de Administração do hospital.
“Foram enviados emails para os mais diversos médicos e institutos, e instituições, tratando no caminho legal e normal de qualquer situação dessas”, defende o advogado da família, Wilson Wilson Bicalho.
Noutro documento, a que a SIC teve acesso, passados dois dias o mesmo médico avisa que para as meninas receberem o tratamento teria de haver sempre uma aprovação prévia do Ministério da Saúde, devendo a mãe endereçar o pedido à tutela.
A troca de correspondência continuou, até que dois meses depois foi marcada a primeira consulta, para dezembro do mesmo ano, 2019 - que depois foi adiada um mês, para janeiro.
Reportagem TVI
Segundo a mãe da menina, num vídeo revelado pela TVI que denunciou o caso, terá havido influência do Presidente da República.
Daniela Martins chegou mesmo a admitir que era amiga da nora do Presidente da República, mulher de Nuno Rebelo de Sousa, e que terá sido através dela que conseguiu a "cunha" em Portugal, que terá permitido a realização do tratamento
“Taxativamente não houve nenhum pedido, nenhum pistolão, que a minha cliente fizesse. Quisera Deus que tivesse poderes maiores que esse, mas não tem acesso a nada”, defendeu o advogado da família, Wilson Bicalho, acrescentando que não houve nenhuma interferência “de forma incorreta” do ministério da Saúde no caso.
Presidente da República e Marta Temido negam envolvimento no caso
Marcelo não comenta envolvimento no caso das gémeas tratadas no Santa Maria.
Também Marta Temido, a então ministra da Saúde, negou esta sexta feira, em entrevista à Rádio Renascença e ao jornal Público, qualquer envolvimento. Marta Temido garante que o tratamento era devido e sai em defesa do Presidente da República.
“Não tive qualquer contacto com o Sr. Presidente da República relativamente a este caso, nem dei qualquer orientação sobre o tratamento destas crianças”, afirma Marta Temido.
A antiga ministra assegura que o procedimento teve tramitação legal.
“É uma carta da Casa Civil da Presidência da República, que é remetida através do chefe de Gabinete do Sr. primeiro-ministro, que, aliás, vem acompanhada de outros pedidos de outros utentes com situações e com problemas, e disposições de outras instituições, e que tem a tramitação habitual”, acrescenta.
A família diz estar a ser vítima de difamação e xenofobia.
O Ministério Público já abriu uma investigação para saber se houve ou não favorecimento deste caso, acrescentado que até ao momento não há qualquer suspeito identificado.